NÃO SABEMOS ORAR
A oração, à época de Cristo, assumia uma posição relevante na piedade do povo judeu. Ela, porém, era concebida em um modelo religioso dominado por uma excessiva preocupação com a Lei. Eles ainda não conheciam a justificação pela fé em Cristo (Gálatas 2:16). De fato, “a Lei é santa”, como disse o Apóstolo Paulo (Romanos 7:12), e por isso devemos procurar vive-la. Mas esse mesmo autor bíblico afirmou que “o homem não é justificado pelas obras da Lei” (Gálatas 2.16). A Lei aponta para a condição de pecado do homem (Romanos7:7) e por isso, o ser humano não consegue cumpri-la (Romanos7:14-23).
O resultado objetivo dessa concepção religiosa, altamente centrada na Lei, foi o desenvolvimento de uma vida de aparências, devido as dificuldades humanas em cumprir os mandamentos divinos. Essa postura de aparente piedade se refletia diretamente na oração. Havia muita hipocrisia no orar com a finalidade de mostrar aos outros falsa devoção, conforme o próprio Jesus apontou (Mateus 6.5). Fica notório, assim, que os judeus, à época de Cristo, não sabiam orar.
De igual modo, hoje, a oração apresenta certos desvios e mostra que, como judeus da época de Cristo, não sabemos orar. Estamos distantes do modelo e do sentido da oração que Jesus ensinou. Assim como os judeus do primeiro século, temos uma visão errada de Deus. Vemos o SENHOR, mas de um modo desfocado em virtude da visão que temos de nós mesmos. Não há, porém, aquela preocupação de ostentar uma falsa espiritualidade. O problema atual é outro: tornamo-nos o centro da oração.
A maioria de nós cristãos, devido ao estilo de vida da sociedade ocidental, vive uma vida voltada para a busca da realização pessoal. Por causa disso, tornamo-nos o centro de todas as coisas e levamos essa postura à vida espiritual. Assim, vamos à oração não para falar com Deus, mas para que nossas necessidades e nossos desejos, muitas vezes materialistas, sejam atendidos. É comum orarmos mais em busca de bens, de fama e de poder do que de outros motivos. Toda a nossa praxe devocional ocorre em torno de nossos objetivos porque nós, e não Deus, estamos em primeiro plano em nossa vida de oração.
Essa atitude de nos colocarmos em primeira perspectiva nos desviou do significado da oração, ensinado por Jesus a seus discípulos. Vemos Deus como o Criador, mas nos enganamos ao pensar que ele está à nossa disposição para satisfazer aquilo que desejamos em nossa vida terrena. Nosso relacionamento com Ele se baseia mais no interesse do que no amor a sua pessoa. Isso ocorre porque vemos a oração como um mecanismo que pode tirar-nos de uma situação indesejada e levar-nos para outra de conforto.
Na maioria das vezes, dirigimo-nos a Deus apenas para pedir; quase nunca para agradecer, exaltar ou adorar. Vamos à oração para pedir e não falar com Deus ou ficar um tempo em sua presença. Isso ocorre porque o foco da nossa atenção é nós mesmos e não Deus. A nossa vida espiritual está mais centrada em nós do que nele. Nossas orações, muitas vezes, brotam das nossas áreas de interesse e não do nosso amor a Deus ou do chamado a adorá-lo por causa da sua glória.
Antônio Maia – M. Div.
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