O CONHECIMENTO ARQUÉTIPO DE DEUS
“Ó profundidade da riqueza
da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e
inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o
seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele,
por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém!”
(Romanos 11.33-36).
Este texto do Apóstolo
Paulo nos inspira a pensar sobre o ser de Deus. No entanto, essa é uma área
vasta da Teologia. Por esse motivo, convém delimitar essa reflexão a apenas um
aspecto de seu ser: seu conhecimento. Sim, o conhecimento de Deus constitui um
aspecto de seu ser que, junto com outros, revela a sua majestade e glória.
Embora o conhecimento ou a intelecção ou a intelectualidade seja algo próprio
de sua Pessoa, Ele comunicou esse aspecto aos anjos e aos homens.
Deus também compartilhou
com os seres criados à sua imagem e semelhança outros aspectos do seu ser, a
saber: sua espiritualidade, sua moralidade e alguns atributos de sua soberania.
Outros aspectos do ser de Deus, porém, que lhe são intrínsecos e o distinguem
de todos os demais seres não foram comunicados às suas criaturas. Por exemplos:
sua autoexistência, sua imutabilidade, sua infinidade e sua unidade. Observa-se,
assim, que pensar Deus demanda extensas reflexões, por isso vamos abordar,
apenas e sucintamente, o conhecimento de Deus em seu caráter arquétipo.
O conhecimento de Deus é,
primeiramente, abrangente. Ele conhece todas as áreas de seu ser e de sua
criação. Não há nada nele ou em todas as extensões dos mundos material e
espiritual que Ele não conheça. Além de ser abrangente, seu conhecimento é
também exaustivo. Deus conhece em detalhes e pormenorizadamente tudo
sobre si e sua criação. Mas esse “tudo” é só uma maneira de falar porque o
conhecimento de Deus, sobre si e sua criação, é também infinito.
Outra particularidade do
conhecimento de Deus é que Ele conhece as coisas de modo não apenas abrangente,
exaustivo e infinito, mas também simultâneo, isto é, todas essas
particularidades de seu conhecimento se manifestam ao mesmo tempo. Assim, ele
conhece o passado, o presente e o futuro de algo tudo ao mesmo tempo e de modo
abrangente, exaustivo e infinito. E esse conhecimento não vem de fora dele.
Está nele de modo inato. Deus não está aprendendo nada e nunca ninguém
lhe ensinou nada.
Há, porém, uma outra
característica do conhecimento de Deus que é o fato de ele ser arquétipo.
Ele conhece “o universo como ele existe em sua própria ideia anterior à sua
existência, como realidade finita no tempo e no espeço” [1]. Ou seja, o Criador
conhece os entes de sua criação de modo abrangente, exaustivo, infinito, tudo
ao mesmo tempo, quando eles ainda eram apenas ideias em sua mente. Então, Deus
“conhece a si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e
simples” [2] (Salmo 147.4,5).
O conhecimento arquétipo de
Deus pode ser observado na sagrada Escritura. Duas passagens sobre o sacrifício
de Cristo, no Novo Testamento, revelam essa natureza de seu conhecimento. O
Apóstolo Pedro refere-se a Jesus Cristo como “um cordeiro sem defeito e sem
mancha, o qual, na verdade, foi conhecido antes da fundação do mundo, mas
manifesto nestes últimos tempos...” (1Pedro 1.19,20). O Apóstolo João, por sua
vez, diz que esse “Cordeiro”, Jesus Cristo, “foi morto desde a criação do
mundo” (Apocalipse 13.8).
Já com respeito aos seres
humanos, ocorrem quatro passagens. Uma com relação às pessoas que não serão
salvas, que é expressa nestes termos: “os habitantes da terra, cujos nomes não
foram escritos no livro da vida desde a criação do mundo...” (Apocalipse 17.8).
E outras três relacionadas aos que herdarão o Reino de Deus. Mateus 25.34, diz:
“venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi
preparado desde a criação do mundo”. Já Efésios 1.4, fala assim: “...Deus nos
escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santo e irrepreensíveis em
sua presença”.
Assim com base no
conhecimento de Deus, pode-se afirmar que Ele não é pego de surpresa por nenhum
evento inusitado em sua criação. Está tudo sob controle. “Até os cabelos da
cabeça de vocês estão todos contados” (Mateu 10.30). Por isso, é razoável dizer
que Deus sabia, antes da fundação do mundo, que o homem iria fazer mal uso de
sua vontade e agir em desconformidade com o padrão no qual ele fora criado,
isto é, iria pecar. Isso é compreensível pois, diferente de nós, Deus está fora
do tempo. Ele é Senhor do tempo.
Antes mesmo da criação do mundo
material, Ele já sabia que os seres humanos fariam mal uso de sua liberdade e
mergulhariam em uma existência de trevas, separada dele, da qual só sairiam com
a sua providência. Por essa razão, Ele, na pessoa do Filho, entra na humanidade
e abre um caminho de volta à condição original por meio da fé na morte e
ressurreição de Cristo. Assim, só nos cabe agradecer a Deus pois, “desde o
princípio”, Ele nos escolheu para “sermos salvos mediante a obra santificadora
do Espírito e a fé na verdade” (2Tessalonissenses 2.13).
Antônio Maia – Ph.B., M. Div.
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Bíblia Nova Versão
Internacional
[1] BERKOHF, Louis.
Teologia Sistemática. Editora Cultura Cristã, 2007, p. 65
[2] Idem.
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