DEUS NÃO EXISTE
“Diz o tolo em seu coração” (Salmo 14.1). Ora, se a própria Escritura qualifica como simplório e ingênuo aquele que diz que “Deus não existe”, convém refletir sobre o tema “a existência divina”? A Bíblia nem sequer, em seu extenso texto, trata essa questão. Ela simplesmente declara que Deus existe e convida as pessoas à fé. Mas, a relevância desse tópico está no fato de ele revelar o alto grau de alienação do homem em relação a Deus, após o pecado original.
Portanto, este texto, embora argumente, sucintamente, em prol da existência divina, pretende, em essência, ressaltar o quanto o homem atual se encontra alheio a Deus a ponto de não percebê-lo na “existência”, na “Criação” e em seu ser. No entanto, cabe destacar que alguns pensadores, ao longo da História, demonstraram, pela razão, que Deus existe, sim. Apenas para citar alguns nomes de peso, destaco: Anselmo de Cantuária (1033-1109); Tomás de Aquino (1225-1274); René Descartes (1596-1650) e Immanuel Kant (1724-1804).
Deus não existe? Ora, se Deus não existe e só existe a matéria, como ela surgiu? Afirmar que a matéria sempre existiu, demanda uma prova robusta. Insistir na afirmação sem prova, constitui um ato de fé. Como a matéria inerte evoluiu para a matéria biológica? Isto é, como surgiu a vida a partir da matéria inerte? Se não há demonstração científica, o discurso continua no campo da fé e, assim, o ateísmo e o materialismo constituem, apenas, outros sistemas religiosos.
Se Deus não existe, como explicar a ideia “Deus” no imaginário humano atual? Se não há Deus, se há apenas matéria, e o ser humano é só matéria, conclui-se que as categorias de pensamento do homem seriam outras, totalmente, diferentes das atuais. Não haveria as ideias de espírito, anjos e mundo espiritual. Todo o pensamento seria de inspiração da realidade concreta. Mas, um ser constituído só de matéria pensa? E o que dizer dos sentimentos?
Então, afirmar que “Deus não existe” constitui uma impossibilidade, pois a mente humana só pensaria em entes de ordem material. É verdade que o ser humano pode imaginar algo que não exista. No entanto, esse algo só teria, em sua estrutura, elementos de ordem material. Ele jamais pensaria em Deus, anjos ou algo de natureza espiritual. A imaginação humana está presa às categorias da realidade na qual ele existe.
Então, o que ocorre quando o ser humano, sem provas, declara que Deus não existe, é porque ele está tão longe de Deus que não mais o sente, não mais o vê e, de fato, para ele Deus não existe. Trata-se do efeito devastador do pecado no ser do homem: a morte espiritual. Por isso o salmista diz que “não há lugar para Deus em nenhum de seus planos” (Salmo 10.4). Os homens se “corromperam… não há ninguém que faça o bem… todos se desviaram… e não clamam pelo Senhor” (Salmo 14.1-4).
É verdade. A humanidade vive alheia a Deus. Vive como se Ele não existisse, como se não tivesse sido criada por Ele, fazendo tudo o que Ele reprova. É sabido, contudo, que existem milhares de religiões, mas elas são apenas criações humanas, que alienam o homem, ainda mais, de seu Criador. Segundo o Apóstolo Paulo, os homens sem Deus vivem “na inutilidade dos seus pensamentos… obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento de seu coração…” (Efésios 4.17,18).
Não bastasse o ser humano ter-se alienado de Deus, na Queda, ele também alienou-se de si mesmo. De modo que o homem, hoje, vive distante do eu que era antes do pecado original. Na Queda, o ser humano se perdeu de si mesmo e vive na insatisfação de ser o eu que é[1], pois o ser só se define naquele que o criou. Assim, o homem nunca está satisfeito consigo mesmo e vive em busca de seu eu original, que só pode ser encontrado quando ele retorna para Deus [2].
Alienado de Deus e de si mesmo, o homem se distanciou também do outro, do próximo. Criado para a vida de comunhão com o outro, o ser humano, após o primeiro pecado, vê o próximo como concorrente, inimigo ou alguém que possa tirar proveito, escravizá-lo, subjugá-lo. Eis, aí, a origem de toda a violência e toda a barbárie humana. O que é a História, senão o relato da dominação do homem pelo pelo homem.
Mas, ao agredir o outro, o ser humano agride a si mesmo, pois ele foi misteriosamente criado em conexão com o outro. O ser humano precisa do outro para entender a si. Em palavras simples, o médico se entende médico no paciente, o professor se vê professor no aluno, o filho se percebe filho no pai. E aqui, verifica-se o grande problema do homem sem Deus: ele se sente um órfão, no mundo, e perdido na imensidão do universo.
Deus, no entanto, em seu grande amor pelo homem, mandou o Filho ao mundo para resgatá-lo dessa condição de Queda. E àqueles que dele se aproximam, ensina-os a chamar Deus de Pai (Mateus 6.9). Depois, próximo à sua morte, Ele disse aos seus discípulos: “ já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês” (João 15.15). O homem que diz que Deus não existe o faz porque está separado dele.
Antônio Maia - Ph.B. M.Div.
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[1],[2] MAIA, Antônio. O Homem Em Busca De Si. Reflexões Sobre A Condição Humana Na Parábola do Filho Pródigo. Ebook, Amazon.com.br, p. 65-68.
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