O AMBIENTE RELIGIOSO DE ISRAEL, À ÉPOCA DE JESUS.
O AMBIENTE RELIGIOSO DE ISRAEL À ÉPOCA DE JESUS
Os
evangelhos e os documentos de Qumran revelam que havia, à época de Jesus, certa
disputa religiosa em Israel. Os principais grupos se rivalizavam por
discordarem, entre si, sobre a interpretação das Escrituras. Foram essas visões
conflitantes e equivocadas que levaram à incompreensão da pessoa de Cristo e ao
surgimento de uma trama para matá-lo (Mt26.3,4; Mc3.6). Tais textos mostram que
pessoas, ainda que religiosas, quando põem suas opiniões e interesses acima do
amor a Deus e ao próximo, tornam-se cruéis e transformam a fé num sistema
opressor e preconceituoso (Jo7.19-24).
Entre
os diversos grupos religiosos, destacava-se o dos saduceus, que
representava as classes mais ricas e sofisticadas. Eram mundanos, dados à
política e, teologicamente, não ortodoxos: negavam a ressurreição e a
existência de anjos e espíritos (Atos 23.8). Por aceitarem apenas os cinco
livros de Moisés e rejeitarem a tradição oral (Mt 15.2) tinham uma postura
conflituosa com os fariseus e a piedade comum do povo. Mas, mesmo assim, seus
membros vinham da linhagem sacerdotal e controlavam o templo.
Outro
segmento importante era o dos fariseus, dentre os quais muitos eram mestres
da lei. Tinham a fama de guardar, com rigor, a Lei de Moisés e a tradição
dos anciãos. Jesus, porém, em muitas oportunidades, os chamou de hipócritas:
“ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros
caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo
de imundície” (Mt23.27). Eram típicos religiosos que expressavam falsa
espiritualidade. Ao contrário dos saduceus, criam em anjos, na ressurreição e
alimentavam uma esperança messiânica.
Havia
ainda os essênios, segundo documentos
encontrados em 1947, na região do Mar Morto. Estes se afastaram, completamente,
do culto do templo e das sinagogas para se dedicarem a uma piedade muito mais
pura e rigorosa. Eles se consideravam o “remanescente” que praticava a
verdadeira adoração a Deus. No conceito de sua santidade, não aceitavam na
comunidade pessoas com defeito físico e idosos fracos que não conseguissem
manter-se de pé na assembleia dos “santos”. O zelo deles preservou manuscritos
da quase totalidade dos textos do Antigo Testamento.
Esse
ambiente religioso recebeu a pregação de Jesus como um escândalo e viu, nela, um
certo teor subversivo, pois falava de um Deus que queria tratar não com os que
se acham santos e dignos, mas com os pecadores e impuros (Marcos2.16,17). As
divisões e as interpretações equivocadas da Lei produziram esse ambiente de
conflito e o distanciamento da santidade que ela inspira. Por essa razão,
tornaram-se cegos, espiritualmente, e mergulharam no formalismo religioso, o
qual os impediu de reconhecer o Cristo, esperado a tantos séculos.
Antônio Maia – M.Div
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