A IMPORTÂNCIA DE ORAR O PAI NOSSO
Observa-se na práxis cotidiana dos fiéis de certos círculos cristãos um
verdadeiro desprezo pela oração dominical. Esse descaso se manifesta de dois
modos: sua recitação mecânica e impensada, reduzindo o ato de orar a um fim em
si mesmo; e seu abandono pelos líderes que não a ensinam mais, distanciando a
Igreja de Cristo das origens do evangelho.
Esses dois equívocos impedem os cristãos de viverem a experiência
sublime da oração conforme o ensino de Jesus. O primeiro conduz o fiel a uma
religiosidade morta, a uma prática devocional mecânica, impensada e sem a
consciência do que faz. O segundo distancia o cristão do ensino de Cristo sobre
como orar. Substitui esse ensino por interpretações erradas do evangelho que
induzem o crente a pensar ser possuidor de superpoderes e autoridade a ponto de
determinar coisas diante de Deus ou reivindicar, deste, bênçãos como se elas
fossem direitos adquiridos, em Cristo, e Ele fosse obrigado a lhes conceder.
Os cristãos precisam reavaliar essas duas posturas e retornar às origens
do cristianismo. A sociedade científica e tecnológica imprimi, nas pessoas, uma
mentalidade materialista e pragmática e isso se projeta sobre a
espiritualidade, alterando o sentido da vida devocional. Como já dito, a
repetição mecânica do “Pai nosso” pode levar à ideia da oração como um fim em
si mesmo, conduzindo o cristão à uma alienação da realidade. Por outro lado, o
abandono da prática de orar o “Pai nosso” e a adoção de entendimentos
equivocados podem levar o crente a pensar a oração como magia[1], achando que
pode manipular Deus por meio dela.
A oração que Jesus ensinou a seus primeiros discípulos está no centro de
sua catequese sobre o que e como falar com Deus. Sua leitura, atenta, revela
que Cristo mostra que a nossa maior necessidade não é isso ou aquilo, mas
Deus[2]. Nela, a alma humana invoca o Pai, pede que venha o seu Reino e a sua
vontade sobre nós. Suplica o pão, o alimento material, mas que pode também ser
entendido como o pão eucarístico, o próprio Cristo. Reconhece-se pecadora e
implora o perdão sob a consciência de que precisa também perdoar. Pede também
que a livre da tentação, pois seu maior desejo é agradar a Deus, assim como a
livre do mal que deseja tragá-la. Observe que o “Pai nosso” mostra a verdadeira
necessidade do homem: Deus.
Está evidente, então, que a Oração do Senhor aborda os aspectos
importantes da vida espiritual do cristão. Ela serve de modelo para o que
devemos orar a Deus, em nossas orações espontâneas, mas isso não impede que a
oremos literalmente. Orar é essencial à vida espiritual. Sem a oração, a vida
cristã se resume a frequentar um templo e ouvir sermões. Mas isso constituiria,
apenas, religiosidade morta. A oração, contudo, traz sentido ao templo, ao
sermão e a toda expressão litúrgica. Ela nos aproxima de Deus, nos permite
sentir a sua presença e a vivenciar experiências sublimes.
[1] JEREMIAS, Joachim. Estudos no Novo Testamento. Editora Academia
Cristã, São André - São Paulo, p.115.
[2] Senhor, Ensina-nos A Orar. Um Ensaio Sobre a Centralidade de Deus na
Oração, Amazon, p.14.
Antônio Maia – M. Div.
Direitos autorais reservados