O FARDO DA ORAÇÃO
Para a maioria de nós cristãos, a oração constitui um pesado fardo.
Sabemos de sua importância para vida espiritual, mas não conseguimos nos
dedicar a ela. Queremos viver uma vida piedosa, mas esbarramos na dificuldade
de torna-la uma prática comum em nossa expressão de adoração. E, assim,
carregamos esse peso na consciência ou, como muitos fazem, procuramos viver uma
vida cristã séria, mas sem desfrutar de uma intimidade maior com Deus por meio
da oração.
Pode parecer forte afirmar que a oração, para muitos cristãos, é um
fardo. Contudo, arriscaria dizer ainda mais: muitos de nós, que seguimos a
Cristo, não temos prazer nela. Isso ocorre porque não sabemos o que é oração e
nem como orar. O evangelista Lucas registrou que “certo dia Jesus estava orando
em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse:
Senhor, ensina-nos a orar...” (11.1). Aquele discípulo, sem dúvida, era uma
pessoa de oração. O judeu, naquela época, orava três vezes ao dia. No entanto,
ele pede a Jesus que os ensine a orar.
Em nossos dias, igualmente, há oração no meio cristão, mas, em essência,
não sabemos orar. A oração, hoje, apresenta um viés pragmático. O ensino sobre
o ato de falar com Deus enfatiza o sentido utilitário, o que gera uma
preocupação com o resultado. É comum ouvir-se frases do tipo: “a oração que
funciona”; “passos para sua oração ser atendida”. É como se a oração fosse uma
técnica capaz de mover o coração de Deus em nosso favor. Esse tipo de ensino
praticado em certos círculos cristãos é, no fundo, uma tentativa de manipular
Deus. Contudo, o teólogo e filósofo, cristão, Sören Kierkegaard não a entendi
assim. Segundo ele, a oração muda o homem e não Deus.
Imersos em uma sociedade de consumo, somos tentados a usar a oração como
meio para alcançar coisas e, às vezes, até nossas ambições. Nesse contexto,
tornamo-nos o centro da oração. Dirigimo-nos a Deus com a atenção mais em nós
do que nele próprio. A ansiedade, por termos nossas orações atendidas, faz-nos
pensar mais em nós que no SENHOR. Vamos falar com Ele por puro interesse e
desprezamos a sua vontade, em relação a nós, sobre aquilo que pedimos. É nesse
ponto que vem a frustração com o ato de orar, pois nossas orações não são
atendidas, visto que o Criador não é nosso serviçal.
É claro que é bíblico o ensino de que podemos pedir coisas a Deus por
meio da oração. Jesus disse: “peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão;
batam, e a porta lhes será aberta (Mateus 7.7). No entanto, esse é apenas um
lado da oração. O outro, mais importante, segundo Mateus e Lucas, é que ela é
um meio de nos relacionarmos e termos intimidade com o SENHOR. Nesse sentido,
nossas necessidades e carências se minimizam, pois percebemos que estamos
diante de um Pai que nos ama e se importa conosco. A visão de que orar é entrar
na presença de Deus muda tudo. Inclusive a nós mesmos. A ansiedade pelos
resultados da oração já não existe, pois nossos pedidos tornam-se irrelevantes
por causa da consciência de que estamos diante de Deus. A intimidade e a comunhão
com o SENHOR, na oração, tornam-nos mais fortes para enfrentarmos as
dificuldades da vida e aos poucos vamos descobrindo o prazer de orar.
Antônio Maia – M. Div.
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