PARA O LOUVOR DA SUA GLÓRIA
O Salmo 17 é o menor Salmo da Bíblia. Todo o seu conteúdo é este:
“louvem o Senhor, todas as nações; exaltem-no, todos os povos! Porque imenso é
o seu amor leal por nós, e a fidelidade do Senhor dura para sempre. Aleluia!”.
Embora pequeno, é um salmo que faz referência a duas questões da maior
relevância teológica: a razão da existência humana e a universalidade da ação
divina no mundo.
O homem, após o pecado original, perdeu-se de Deus e de si mesmo [1].
Vive a construir um mundo que lhe dê sentido. Mas, depois de milênios, ainda
não conhece a razão da existência. O salmista, contudo, começa falando,
exatamente, a esse respeito. Ele diz: “louvem o Senhor, todas as nações;
exaltem-no, todos os povos!”. Ele diz isso porque entende que os povos e
as nações, isto é, o homem existe para o louvor da glória de Deus. De fato, o
Apóstolo Paulo diz, em sua carta aos Efésios, que Deus, em Cristo, está
separando um povo para “o louvor de sua glória” (1:12,14).
Não que Deus seja um ser tirano que criou seres para o seu louvor e que
Ele precise de louvores para sentir-se bem. Mas porque há em sua essência algo
sobre o qual o salmista falou: “seu amor”. Possivelmente o amor constitui o
atributo mais fundamental e basilar do ser de Deus, mesmo antes de seu poder,
sua santidade, sua justiça... E isso nos faz ver que não temos um entendimento
pleno do que seja o amor, do mesmo modo que Deus está além de nossa
compreensão. O amor está tão intimamente relacionado a Deus, que o Apóstolo
João o definiu do seguinte modo: “Deus é amor”.
Assim, infere-se que é dessa condição que decorre toda glória de Deus.
Por essa razão, os serafins, os querubins e todas as classes de anjos, bem como
o homem, têm como reação diante do esplendor de Deus os atos de adoração e
louvor a Ele. É impossível à criatura o não se derramar em louvores diante do
Criador; e, só nessa condição, ela alcança o status de plena dignidade. Deus
que é amor atrai a criatura a Ele e isso a faz viver para “o louvor de sua
glória”. Por isso, a razão da existência humana é viver para Deus.
Mas, o homem caído, isto é, o homem sem Deus acha isso muito pouco ou,
simplesmente, não aceita. Vivendo para si, busca a sua própria glória e o seu
próprio louvor. Foi isso o que a serpente disse para Eva: “...vocês, como Deus,
serão...”. Morto espiritualmente (Efésios 2:1), o homem só discerne o mundo da
matéria e quer ser um deus. Contudo, não pensa assim o cristão. O Apóstolo
Paulo disse: “pois nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre
apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos
para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor”
(Romanos 14:7,8).
A segunda questão levantada pelo salmista diz respeito à universalidade
da ação divina no mundo. Embora Deus tivesse aparecido aos judeus, Ele não era
um “deus nacional” como os povos pagãos tinham, mas Deus de toda a Criação.
Isso pode ser notado em todo o Antigo Testamento, que apresenta inúmeras passagens
que mostram “que o destino de todos os povos está no que Deus fazia no meio e a
favor de seu povo, Israel” [2]. Por essa razão Paulo, apóstolo dos gentios,
citou o primeiro verso desse Salmo para confirmar a ideia de que Cristo veio
também para os gentios (povos não judeus) e que eles também eram alvos da
salvação provida por Deus por meio de Jesus (Romanos 15:8-11).
Essa questão era relevante, na igreja primitiva, tanto que Pedro foi
duramente questionado pela Igreja de Jerusalém por ter levado o evangelho à
família de um gentio, o capitão romano, Cornélio (Atos 11.1-17). No entanto,
cabe ressaltar que Cristo não veio restaurar o reino terreno dos judeus, mas,
antes, implantar o Reino de Deus. Essa ideia de “Reino de Deus” é central nos
ensinos de Jesus, tanto que, só em Mateus, ela é mencionada cinquenta vezes
[3]. Uma das últimas palavras de Jesus a seus discípulos foi: “vão e façam
discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19).
O homem caído tem criado um mundo só seu, em toda a extensão da Terra.
Contudo, o salmista diz: “Deus é o rei de toda a Terra... Deus reina sobre as
nações” (Salmo 47:7,8). Assim, a situação do mundo atual, assemelha-se a de
Israel (extrato da humanidade), antes do cativeiro babilônico. Por terem se
afastado de Deus, Ele permitiu sua destruição, mas prometeu uma nova Jerusalém,
uma nova ordem nacional. Nesse ponto, cabe a palavra do Apóstolo Pedro, que
disse: “os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo,
guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios” (2Pedro3:7). Mas
isso não é o fim. A profecia bíblica termina com um extrato da humanidade
vivendo para o louvor de Deus. João diz: “então vi novos céus e nova terra...
aquele que estava assentado no trono disse: estou fazendo novas todas as
coisas” (Apocalipse 21:1,5).
Antônio Maia – M. Div.
Direitos autorais reservados
[1] MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si - Reflexões Sobre a Condição
Humana na
Parábola do Filho Pródigo. amazon.com.br
[2] Bíblia NVI Comentada. São Paulo: Ed Vida, 2003, p. 1014.
[3] Bíblia NVI Comentada. São Paulo: Ed Vida, 2003, p. 1618.
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