PERMANECENDO FIRME
Há muitos motivos
para os cristãos abandonarem sua fé em Cristo e se tornarem seculares, nos dias
atuais. O primeiro deles é a sensação de poder, de autossuficiência e autonomia
que o avanço científico e o desenvolvimento tecnológico, marcas do mundo de hoje,
produzem nas pessoas. A consequência disso é o surgimento de uma forte
mentalidade ateísta que imprime, no homem contemporâneo, a ideia de que ele não
precisa mais de Deus, pois é capaz de resolver seus problemas e dirigir seu
destino sozinho. Hoje, fala-se em um mundo “pós-cristão”, no qual Deus é apenas
uma ideia ultrapassada. Identificar-se como seguidor de Jesus significa ser um
alienado.
Esse novo mundo,
dominado pela Ciência e pelo racionalismo, é fruto de uma cosmovisão
materialista que teve como resultado o aparecimento de novas ideias a respeito
da pessoa humana, causando transformações de natureza social. A ideologia de
gêneros, por exemplo, promove alterações no modo como as pessoas se veem,
refletindo diretamente na configuração da família e da sociedade. Posicionar-se como cristão ante aos que
defendem esse pensamento implica em certas dificuldades, pois mesmo as atitudes
de amor e respeito não impedirão de sermos rotulados de bobos, atrasados ou
preconceituosos.
Mas os motivos
para o abandono da fé não são apenas de ordem externa ao cristianismo. Eles
veem da própria Igreja que, despreparada para enfrentar novas demandas, não
sabe como posicionar-se e manter-se relevante como portadora do Evangelho de
Cristo. Essa deficiência tem consequências diretas sobre a ação evangelizadora
e o discipulado dos fiéis. O anúncio do kerigma é desprovido de argumentação
consistente ante à cognição ateísta e materialista do pensamento contemporâneo.
A catequese e o ensino aos fiéis não os preparam para a vida no ambiente averso
ao Evangelho. Com o tempo, os cristãos, sob ataque do cientificismo, desistem
da doutrina cristã por não verem mais sentido nela.
A Igreja, sob a
influência dessa mentalidade materialista, assimila, sem perceber, seus “inputs”
e os adota em sua ação. Um exemplo é o triunfalismo presente em certas
congregações religiosas, nas quais nota-se uma busca pelo sucesso ministerial
que se define no crescimento do número de pessoas que frequentam os cultos. O
objetivo é crescer e não evangelizar e fazer discípulos de Cristo. O resultado
desse caminho não é uma Igreja forte e preparada para ser luz no mundo. O que
ocorre é uma perda de relevância da Igreja como portadora de uma mensagem
espiritual, pois o que se estabelece é um novo status caracterizado pelo poder,
pela fama e pelo dinheiro.
Por essas razões,
o ateu ou mesmo pessoas que estão em busca de sentido para a vida não
reconhecem a Igreja como autorizada para falar de Deus. Principalmente quando
veem notícias sobre prática de pedofilia por sacerdotes, de um lado, e, de
outro, o enriquecimento de religiosos com o dinheiro dos dízimos dos fiéis.
Essas coisas fazem os próprios cristãos se perguntarem sobre a seriedade da
Igreja. Ainda convém destacar, em todos os ramos da cristandade, a presença de
ensinos excêntricos e esdrúxulos que, sem sustentação na Escritura e que nunca
foram ensinados por Cristo e seus Apóstolos, agridem à razoabilidade e
envergonham os seguidores do Senhor Jesus Cristo.
É fato que
cristãos, em todo o mundo estão se secularizando e apostatando da fé. Mateus
registrou que Jesus, falando sobre o “fim dos tempos”, disse: “devido ao
aumento da maldade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que persevera até o
fim será salvo” (24.3,12,13). É preciso permanecer firme, pois Jesus advertiu
sobre a presença do joio no meio da Igreja (Mateus13) e disse que “nem todo
aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus...”
(Mateus7.21). É preciso manter-se firme, pois Ele também falou que “é
inevitável que aconteçam coisas que levem o povo a tropeçar, mas ai da pessoa
por meio de quem elas acontecem” (Lucas17.1).
Muito embora tudo
isso, sabemos que Deus existe, que o Evangelho é a Verdade e que a maioria dos
sacerdotes é constituída por pessoas sérias, corretas e consagradas e que há
muita coisa boa no seio da Igreja. Por isso, não devemos nos abater. Antes,
procuremos nos dedicar à oração, à reflexão na Palavra e a viver segundo ela,
“não deixando a nossa congregação como é costume de alguns” (Hebreus10.25). O
profeta Daniel disse que no fim dos tempos a ciência se multiplicaria (12.4).
Então, esse é o cenário no qual estamos inseridos e para o qual fomos chamados
a dar testemunho de Cristo. Ademais é preciso compreender que ser cristão não é
algo para muitos (Mateus7.13). Assim, se a mentalidade científica, materialista
e ateísta nos rotula de anacrônicos, não nos abalamos, pois fazemos parte
daqueles que, desde Enos, isto é, desde os tempos imediatos à Queda, invocam o
nome do SENHOR (Gênesis 4.26).
Antônio Maia – M.Div.
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