CRISTÃOS EM FUGA
Esse é um tema difícil de tratar, pois incomoda e por isso mesmo muitos
não querem falar sobre ele. Mas é preciso que se diga: embora o cristianismo
traga paz, conforto, felicidade e uma vida equilibrada aos fiéis, há momentos
em que dificuldades podem surgir. Ser cristão, às vezes, implica em passar por
certos sofrimentos, pois, como diz o Apóstolo Paulo, “...a nossa luta não é
contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os
dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas
regiões celestiais” (Efésios 6:12).
Já no início da Igreja de Cristo, esse aspecto do cristianismo, pode ser
observado. De acordo como o evangelista Lucas, em dado momento de sua origem,
“a igreja passava por um período de paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria.
Ela se edificava e, encorajada pelo Espírito Santo, crescia em número, vivendo
no temor do Senhor” (Atos9:31). Contudo, antes desse período de tranquilidade,
a coisa não era bem assim. De acordo com o doutor Lucas, após o apedrejamento
de Estêvão, “...desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém.
Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e de
Samaria... Saulo, por sua vez, devastava a igreja. Indo de casa em casa,
arrastava homens e mulheres e os lançava na prisão” (Atos 8:1-3).
Obviamente, para aquele que se julga destemido, fugir pode parecer sinal
de fraqueza. Mas, muitas vezes é a melhor solução, pois evita o enfretamento
prematuro de situações que podem ser nocivas ou perigosas e que não precisam
ser enfrentadas de antemão. O próprio Senhor Jesus orientou o Apóstolo Paulo a
sair, apressadamente, de Jerusalém, quando ele retornou para lá após a sua
conversão. Veja o texto: “quando voltei a Jerusalém, estando eu a orar no
templo, caí em êxtase e vi o Senhor que me dizia: depressa! Sai de Jerusalém
imediatamente, pois não aceitarão seu testemunho a meu respeito... Vá, eu o
enviarei para longe, aos gentios” (Atos22:17,21).
O Senhor também, ao profetizar a destruição do templo de Jerusalém, fato
este que aconteceu no ano 70 d.C. por ação dos exércitos romanos, orientou os
discípulos a fugirem. Veja Mateus 24:15-20, associado com Lucas 21:20-24. Lucas
interpreta Mateus. O Senhor diz: “quando virem Jerusalém rodeada de
exércitos... fujam para os montes...” (Lucas 21:20,21). Mateus acrescenta:
“...orem para que a fuga de vocês não aconteça no inverno...” (24:20). De
acordo com os comentaristas da Bíblia Nova Versão Internacional, os cristãos de
Jerusalém fugiram para a cidade de Pella, na região da Transjordânia, pouco
antes do ano 70 d.C., antes da chegada dos exércitos romanos [1].
O Apóstolo Paulo, orientado pelo próprio Senhor, usou a fuga como
solução à perseguição que sofria no anúncio do evangelho entre os
gentios. Escrevendo aos Coríntios, ele disse: “em Damasco, o governador
nomeado pelo rei Aretas mandou que se vigiasse a cidade para me prender. Mas de
uma janela na muralha fui baixado numa cesta e escapei das mãos dele”
(2Coríntios 11: 32,33). Essa questão da perseguição e fuga não é algo afeto
apenas a importantes líderes, pregadores e missionários. A perseguição constitui
um tópico do ensino de Jesus (Mateus 13:21; Marcos 10:29,30). Veja também o que
disse Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses: “nos gloriamos em vocês entre as
igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as
perseguições e tribulações que estão suportando (2Tessalonicenses 1:4).
Nesse contexto, observando a História da Igreja, nota-se que os cristãos
foram perseguidos, inicialmente, pelos seus próprios irmãos, os judeus. A
igreja inicial era composta de judeus convertidos. Depois eles passaram a ser
perseguidos pelos romanos até o cristianismo tornar-se a religião oficial do
império. A partir desse momento, a Igreja passa a desfrutar de paz e
tranquilidade. Mas, com o passar do tempo, desvios doutrinários a levaram a
afastar-se do evangelho de Cristo e, aos poucos, ela foi se secularizando de
tal modo a tornar-se um poder temporal. Nesse ponto, ela deixa de ser
perseguida para ser perseguidora. A Igreja, distante de Cristo, na Idade Média,
por meio da instituição da santa inquisição, perseguiu, com rigor, os judeus e
todos que discordavam dela.
Nos últimos dois séculos, os cristãos voltaram a ser perseguidos em
ditaduras e países não cristãos do oriente e extremo oriente. Nas democracias
liberais do ocidente, eles ainda vivem com liberdade e conforto, mas já se
observam sinais de perseguição, devido aos conflitos ideológicos e mudanças
sociais em curso. Parece que há uma tendência ao recrudescimento da perseguição
aos cristãos. As trevas não suportam a luz de Deus. Por isso Paulo falou:
“todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”
(2Timóteo3:12). Jesus, mesmo, em seu último discurso aos discípulos,
discorrendo sobre o fim dos tempos, falou: “eles os entregarão para serem
perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por
minha causa” (Mateus 24:9).
Depois, Jesus continua discorrendo sobre uma “grande tribulação como
nunca houve desde o princípio do mundo até agora” (Mateus 24:21). Ela marcará o
fim dessa humanidade e o renascimento de uma nova, criada nos moldes de sua
Pessoa, isto é, em Cristo (Efésios 2: 8-22). O livro de Apocalipse, último
livro da Bíblia, fala que, nessa grande tribulação, todos vão morrer. Os não
cristãos por terem rejeitado o Cristo, após a morte, serão lançados a uma
condição de sofrimento e indefinição eterna por estarem separados de seu
Criador (Apocalipse 20:15). Já aqueles que morreram, na grande tribulação, por
causa de sua fé em Cristo reencontrar-se-ão com Deus, em seu Reino, e
desfrutarão de uma vida eterna em plenitude de ser (6:9-11; 7:9-17; 21:1-5;
22:1-5).
Antônio Maia – M.Div.
Direitos autorais reservados
[1] BÌBLIA Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida. 2010,
p.1658.
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