JESUS, INCOMPREENDIDO. - PARTE II
Como
visto na primeira parte dessa reflexão, até mesmo os discípulos, que eram tão
próximos a Jesus e caminhavam com Ele, não o compreendiam, de início. A causa,
como já dito, era o fato de que eles esperavam um Messias político-nacionalista
que libertaria Israel do império romano e o elevaria a uma posição importante
entre as nações. No entanto, Jesus não se envolvia com política, era
profundamente espiritual e afirmava que seu “Reino” não era deste mundo (João
18:36). Na verdade, o centro de seu ensino e pregação era, exatamente, o “Reino
de Deus” (Lucas 6:20; 8:10; 9:62; 10:9; 11:2; 11:20; 12:31; 13:29;
16:16;17:20,21; 18:16,24; 21:31; 22:29,30).
Mas,
outros aspectos de sua pessoa contribuíam para essa incompreensão. Embora fosse
um homem de “carne e sangue” com família e endereço fixo, seu nascimento
sobrenatural, sua vida profunda de oração e a originalidade de seu ensino e
pregação faziam as pessoas o virem como diferente e especial. Contudo, nada foi
tão forte e impactante para essa incompreensão de sua pessoa quanto os milagres
que Ele realizou. Esses feitos de Jesus eram inexplicáveis à luz das leis
naturais que regem o mundo físico. Como entender um homem de “carne e sangue”
(Hebreus 2:13) que repreende o vento e a fúria do mar, trazendo imediata
calmaria (Mateus 8:23-27)?
Sobre
isso, nota-se que Jesus demonstrou, em muitos milagres, poder sobre a “physis”,
isto é, sobre a matéria. Duas vezes Ele transformou poucos pães em uma
quantidade suficiente para alimentar uma multidão. Ele também andou sobre as
águas do Mar da Galileia, transformou água em vinho e alterou a matéria do
corpo de pessoas, em muitas curas, como dar vista a cegos, curar leprosos e
paralíticos (Mateus 14:30-44; 15:29-39; Mateus 14:22-36; João 2:1-11; 9:1-12;
Mateus 8:1-4; 9:1-8).
Além
desse poder sobre o mundo da matéria, os evangelhos mostram que aquele
carpinteiro de Nazaré tinha um incompreendido poder sobre o mundo espiritual.
Certa vez, Ele foi à sinagoga de Cafarnaum e, enquanto ensinava, “um homem
possesso de um espírito imundo gritou: o que queres conosco Jesus de Nazaré?
Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus!”. Jesus, não
querendo que as pessoas viessem a crer na sua procedência divina por intermédio
do testemunho de demônios, o repreendeu, dizendo: “cala-te e sai dele!”. Na
mesma hora, “o espírito imundo sacudiu o homem violentamente e saiu dele
gritando”. E todos ficaram espantados com a autoridade de Jesus sobre esses
seres malignos (Marcos 1:21-28). Os evangelhos contêm inúmeros outros relatos
de embates de Jesus com esses anjos caídos, mostrando sua autoridade sobre
eles.
Outro
aspecto era o seu poder sobre a morte. Os evangelhos narram que Jesus Cristo,
durante sua ação no mundo, ressuscitou três pessoas mortas (Marcos 5:21-43;
Lucas 7:11-17 e João 11). Esses feitos deram a Ele muita notoriedade e
multidões o seguiam. Ele mesmo afirmava sobre si: “Eu sou a ressurreição e a
vida. Aquele que crer em mim, ainda que morra viverá” (João 11:25). Ele assim falava
porque sabia que logo morreria, na cruz, mas que ressuscitaria. Esses dois
eventos, sua morte e ressureição, poriam fim à morte, na humanidade, e abririam um caminho para o homem retornar
ao seu Criador.
Certas
declarações de Jesus causavam forte incompreensão sobre sua pessoa em seus
discípulos e, principalmente, entre os religiosos de sua época. Certa vez,
levaram a Ele um paralítico para que Ele o curasse. Jesus, porém, não o curou.
Apenas disse àquele homem: “homem, seus pecados estão perdoados”. Como Deus,
encarnado, Jesus entendia que Ele tinha poder até para perdoar pecados. E,
assim, o fez, pois era muito mais importante que a cura física, visto que o
perdão dos pecados livra o homem da condenação eterna.
Ocorre,
contudo, que os religiosos, presentes, ficaram escandalizados com essa
declaração de Jesus. Então Ele disse: “que é mais fácil dizer: os seus pecados
estão perdoados ou levantes e ande? Mas para que vocês saibam que o Filho do
homem tem na terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico – eu
lhe digo: levante-se, pegue a sua maca e vá para a casa”. O texto acrescenta
que, na mesma hora, o homem se levantou e saiu louvando a Deus (Lucas5:17-26).
Após
a morte de Jesus, os religiosos, de sua época, permaneceram não o
compreendendo. Mas, os seus discípulos alcançaram pleno entendimento sobre sua
pessoa, pois após a sua ressurreição, Ele passou quarenta dias com eles
relembrando o que havia dito e os reorientando. Dez dias depois de sua ascensão,
no Pentecostes, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos. Ele os ensinou
sobre Jesus Cristo, pois Jesus havia dito para eles: “o Conselheiro, o Espírito
Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará
lembrar tudo que eu lhes disse” (João 14:26).
Nos
dias atuais, Jesus Cristo permanece incompreendido para a maior parte da
humanidade. Isso ocorre por causa do pecado, no interior do homem. Um véu de
iniquidade impede o ser humano de ver Jesus Cristo como Filho de Deus. O
Apóstolo Paulo disse: “quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vem do
Espírito de Deus... não é capaz de entende-las porque elas são discernidas
espiritualmente” (1Coríntios 2.14). Mas aqueles que reconhecem sua condição de
queda espiritual e recorrem a Deus, podem receber dele a graça de terem seus
“olhos do coração” (Efésios 1.18) abertos e verem não somente a glória do Filho
de Deus, mas também seu Reino eterno.
Antônio Maia – Ph.B., M.Div.
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