JESUS ENTRE OS CANDELABROS
No primeiro capítulo de Apocalipse,
o Apóstolo João narra uma visão que teve de Cristo, em sua glória. Nessa visão,
Jesus estava entre sete candelabros de ouro e na sua mão direita tinha sete
estrelas (1.12-16). Que significam esses sete candelabros, essas sete estrelas
e a visão como um todo? Qual a relevância dessa visão no contexto da Igreja
atual?
Bem, no que diz respeito às
sete estrelas e aos sete candelabros, o próprio Senhor Jesus explica. Ele diz:
“este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão direita e dos
sete candelabros: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas e os sete
candelabros são as sete igrejas” (1.20). Tudo explicado, mas quem seriam esses
anjos? Obviamente, os líderes das igrejas, pois não faria sentido Jesus mandar
um ser humano escrever uma carta para enviar a anjos.
Agora, como entender o
significado dessa visão como um todo? Primeiro é preciso que se saiba que a
literatura apocalíptica é altamente simbólica. Veja que a Igreja é tratada como
um candelabro e seus líderes como anjos. Candelabros e anjos, aqui, constituem símbolos.
Assim, é necessário conhecer seu simbolismo para obter-se a devida compreensão.
O último símbolo a compreender, nessa visão, é o número “sete”. Por que “sete
candelabros” e “sete anjos”? Por que não “dez” ou outra quantidade?
Porque na literatura
apocalíptica, o número “sete” representa a “totalidade”, o “todo”. Assim, a
visão pode ser entendida como Cristo em meio a toda à sua Igreja, não apenas a da
época de João, mas a Igreja de todas as eras, inclusive a atual. E essa Igreja
é retratada nas sete igrejas descritas nos capítulos dois e três que se seguem.
A leitura atenta desses capítulos mostra que sempre houve, em todas as eras da
Igreja de Cristo, igrejas saudáveis, outras mornas e outras bastante problemáticas.
Esse fato é muito relevante
porque muitos cristãos verdadeiros estão descontentes e envergonhados com os
escândalos e a irrelevância da Igreja atual. Mas Cristo sempre soube disso e,
por isso, mandou essas cartas às “sete igrejas”, bem como advertiu sobre o
problema do joio, isto é, das pessoas não transformadas pelo Espírito causando
confusão e escândalos na Igreja. E isso diz respeito inclusive a líderes. Veja
o que Ele disse ao anjo da Igreja de Éfeso: “...sei que você não pode tolerar
homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos, mas não são e
descobriu que eles eram impostores” (2.2).
Por isso, os cristãos
verdadeiros, aquele que foram “gerados de novo”, como disse o Apóstolo Pedro
(1Pedro 1.3) ou como disse o Senhor Jesus, “nasceram de novo” (João 3.1-8),
precisam aprender a conviver com essa situação e não desanimar. Precisam continuar
a ser “sal” e “luz” no mundo. O autor de Hebreus nos estimula a assim agir e
diz: “apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que
prometeu é fiel... não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de
alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês
veem que se aproxima o Dia” (10.23,25).
Muitos veem a Igreja do
primeiro século como a ideal, mas veja os escândalos que o Apóstolo Paulo relata
na Igreja de Corinto. E o que dizer da Igreja da Idade Média, manchada com o
sangue das cruzadas e da santa inquisição, cujos líderes mais elevados, que só
podiam vir das classes nobres, nem sempre reuniam condições morais e
espirituais para as funções que exerciam? E a Igreja da Idade Moderna que, prisioneira
nas suas tradições e distante da reflexão na Palavra de Cristo, não soube fazer
frente às novas demandas contrárias à fé vindas do desenvolvimento científico e
da impulsão filosófica?
A Igreja atual não seria
diferente. Os escândalos de pedofilia, homossexualismo e enriquecimento ilícito
entre líderes religiosos, por exemplo, mancham a imagem da Igreja e reduzem a sua
autoridade. Aliado a isso, há o contundente discurso do ateísmo e do
materialismo desfechado pela sociedade científica e tecnológica dos dias atuais,
que reduzem a nada a prédica de muitas igrejas que, distantes da reflexão do
mistério de Cristo e das verdades do evangelho, veiculam ensinos esdrúxulos,
sobre os quais Jesus e os Apóstolos nunca falaram.
Toda essa incongruência do
testemunho da Igreja com o evangelho de Cristo faz parte do conjunto de
dificuldades que o seguidor de Jesus tem que enfrentar. Por isso, o cristão
verdadeiro não pode desanimar. Há muita gente não convertida a Deus, na Igreja,
fazendo coisas que Jesus nunca as mandou fazer. Veja o que Ele disse, certa
vez: “nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus...
muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em
teu nome não expulsamos demônios e realizamos muitos milagres? Então eu lhes
direi, claramente: nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o
mal” (Mateus 7.21-23).
Então, se você está
decepcionado com a Igreja, não a abandone. Continue nela lutando por seu bom
testemunho no mundo. A Igreja não é qualquer igreja; é a Igreja de Cristo. Se
há escândalos, há também a pregação do evangelho, que “é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crer” (Romanos 1.16). Se há maus líderes; há também
aqueles que, como diz a profecia, estão na mão direita de Cristo (Apocalipse
1.20), isto é, os honrados e verdadeiros servos do Senhor. Convém lembrar, por
fim, que a Igreja é a nova humanidade que Deus está criando para viver com Ele
em “novos céus e nova terra” (Apocalipse 21.1).
Antônio Maia – Ph.B.,
M.Div.
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