SOBRE RECEBER EM VÃO A GRAÇA DE DEUS
O Apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto, em sua segunda carta, diz: “...insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus” (2 Coríntios 6.1). Paulo fala isso no contexto da defesa que faz de seu ministério, entre eles, devido às críticas de falsos mestres sobre o trabalho dele. O Apóstolo recomenda que recebam a graça divina, sobre a qual lhes pregou, como algo precioso e que vivam uma vida santa, diante de Deus e do mundo, como resposta de amor à bondade do SENHOR que derramou a sua graça em favor deles.
Como já é do conhecimento de muitos, o ser humano ao afastar-se de Deus, quando decidiu desobedecê-lo, sofreu graves alterações em seu corpo e espírito, passando a ter uma vida de dor, sofrimento e morte. Seu corpo, criado para ser eterno, após o pecado original, passou a progredir em uma trajetória que culmina em sua desintegração na sepultura. Seu espírito, por sua vez, ao desconectar-se do Criador, morreu. O homem perdeu a sua perfeição inicial e se tornou um ser incompleto, desorientado e condenado à solidão eterna de uma vida sem Deus.
Segundo os profetas, os apóstolos e o próprio Senhor Jesus, essa condição de morte eterna, por causa do pecado, não pode ser resolvida pela humanidade. Um abismo intransponível se estabeleceu entre ela e Deus. Não há como a corrupção alcançar a Santidade. Deus, então, por causa de seu grande amor pelo homem, providenciou a solução. O Filho, uma das três pessoas da Trindade, encarnou-se e, como um homem de carne e sangue (Hebreus 2.14), cumpriu, no lugar do ser humano, as justas exigências da Lei divina (Romanos 8.4), reconciliando o homem com Deus.
“Por isso, quando Cristo veio ao mundo, disse: sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste; de holocaustos e ofertas pelo pecado não te agradaste” (Hebreus 10.5). Jesus Cristo falou isso se referindo aos sacrifícios praticados nos cultos do Antigo Testamento, que não tinham um valor real para perdoar pecados e salvar o homem da condenação eterna. Eles tinham, apenas, uma função didática de apontar para o verdadeiro sacrifício que salva: a morte do Filho, na cruz.
Continuando o relato de Hebreus, Jesus prossegue: “então eu disse: aqui estou, no livro está escrito a meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus” (10.6). O contexto mostra que o que Jesus está dizendo é que, como homem, Ele cumpriu a Lei de Deus, isto é, viveu sem pecado e, agora, oferece-se como oferta pelos pecados da humanidade caída (Romanos 8.3; Efésios 5.2). Neste ponto, reside a natureza da graça divina: o homem não tem como livrar-se da condenação do pecado, mas Deus o livra por meio do sacrifício de si mesmo (Hebreus 10.10). A graça é, então, esse favor imerecido que Deus faz em prol do ser humano para livrá-lo da morte eterna que vem, sobre ele, por causa do pecado.
Por essa razão, Paulo fala aos Coríntios para não receberem em vão a graça divina. Não foi pouca coisa que Deus fez pelo homem pecador. O Apóstolo diz: “tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo… ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando o mundo, não levando em conta os pecados dos homens… Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.18,19,21).
Agora há um meio para anular a corrupção do gênero humano e religar a criatura ao seu Criador: o sangue de Cristo (1 João 1.7). Por isso o Apóstolo entende que o cristão não pode receber em vão a graça de Deus. Ele não pode viver como se o ato de Cristo, na cruz, tenha sido em vão e não tenha valor para justificá-lo diante de Deus. Por essa razão disse o Apóstolo: “Ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Coríntios 5.15). Um cristão recebe em vão a graça divina quando vive irrefletidamente a sua fé e sem compromisso com a vida com Deus.
É nesse contexto que Paulo exorta os cristãos de Corinto a buscarem a santidade. Eles devem fazer isso, não para salvar as suas almas por seus esforços, mas como uma resposta de amor a Deus por terem sido salvos pela sua graça, revelada no sacrifício do Filho. Assim, o Apóstolo exorta o cristão a não fazer concessões às trevas, vivendo como vivem os ímpios. Ele diz: “... o que tem em comum a justiça e a maldade? Ou, que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente?” (2 Coríntios 2.14-16).
Assim, a graças de Deus não pode ser recebida em vão, pois custou caro para o Pai enviar o Filho, ao mundo, para morrer pelo homem pecador. Ele fez isso para restaurar o corpo e o espírito do homem à sua condição inicial. Paulo ensina: “...se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito está vivo por causa da justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vocês” (Romanos 8.10,11).
Então, quando o cristão compreende a graça de Deus, em sua vida, consagra-se à santidade e alcança a consciência de que a sua “cidadania está nos céus”, onde viverá no esplendor de coisas gloriosas. Pois as alterações no seu corpo e espírito, causadas pelo pecado original, não mais existirão. Foram anuladas pela fé no sacrifício de Cristo. De modo que a graça de Deus restaura o homem à sua condição original e o habilita a viver com Deus, novamente, em “novos céus e nova terra” (Apocalipse 21.1-5).
Antônio Maia - Ph.B., M. Div.
Direitos autorais reservados



Comentários