HÁ AMOR NOS JUÍZOS DIVINOS



Em geral vemos as coisas, as situações e o mundo a partir de perspectivas que adquirimos ao longo da vida. Por isso, um determinado fato pode receber diversas interpretações. Contudo, nem sempre nossos juízos de valor correspondem à realidade, pois as coisas e as situações possuem sentidos próprios e intrínsecos a despeito das opiniões e visões que recebem. 

Como entender as pragas permitidas por Deus sobre o Egito? Elas transformaram a maior potência econômica e militar da época num país arrasado. E o que dizer da última praga? Diz o texto: “então, à meia-noite, o SENHOR matou todos os primogênitos do Egito, desde o filho mais velho do faraó, herdeiro do trono, até o filho mais velho do prisioneiro que estava no calabouço, e também todas as primeiras crias do gado” (Êxodo 12.29). Teria Deus prazer no sofrimento humano? Seria Ele mal?

No livro do profeta Naum está escrito: “o SENHOR não deixará impune o culpado” (1.3). O mal não prevalecerá nem ficará impune. Aceitar isso significa ver essa questão a partir da perspectiva divina e não nossa. O Egito representava o típico mundo criado pelo homem após a Queda. Nele, eram adorados muitos deuses, mas não o Criador; e o ser humano era reduzido mero objeto de exploração como escravo. Naqueles juízos, Deus mostrou ao mundo que o sistema humano, estabelecido após o homem afastar-se do Criador, não se perpetuará, mas terá um fim. Deus restaurará sua Criação, que foi deteriorada pelo pecado.

Uma reflexão mais acurada vai mostrar que naquelas pragas, naqueles juízos divinos, havia amor. O amor estava no fato de que ao mesmo tempo que a dor vinha sobre os egípcios; a salvação vinha sobre os judeus. Há amor nos juízos divinos. É preciso entender que para o bem prevalecer, o mal precisa ser extirpado. Conclui-se, então, que o amor envolve certa dose de sofrimento. Mas este decorre não por vontade divina, mas por causa da condição humana de decadência. Não precisava chegar ao décimo juízo; só chegou por causa da obstinação do Faraó.

A narrativa bíblica contém exemplos de juízos divinos para eliminar o mal. O dilúvio veio sobre a humanidade para depurá-la, pois o mal havia se generalizado. Israel foi levado para o cativeiro babilônico para que não se extinguisse nas práticas da religião dos cananeus. O Apocalipse virá com seus juízos para por fim a este sistema mundial, marcado pelo pecado e pela idolatria, e estabelecer uma nova ordem em que Ele mesmo viverá com os homens. E o que dizer do sacrifício do próprio Deus, na pessoa do Filho, em favor do homem, livrando-o da condenação da morte eterna?

Brunner (2010, p.301), em sua Dogmática, fala dessa “tensão dialética entre a Ira e a Misericórdia” de Deus. Ele escreve:

Mesmo no inferno, Deus está presente, não como o Deus revelado em Jesus Cristo como Amor, mas em sua ira, que é um Fogo Consumidor. Onde Jesus Cristo está, ali está a Luz e a Salvação; onde a Luz e a Salvação não estão presentes, Jesus Cristo não está presente. Mas Deus ainda está ali, como o Deus de Ira: “Aquele que crer no Filho tem a vida eterna: e aquele que não crer no Filho não verá a Vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3:36) (BRUNNER, 2010, p. 298).

Esse aspecto do ser de Deus pode ser difícil para o homem entender e aceitar, pois o ser humano caído tem suas visões sobre Ele e vive a ilusão de querer domesticá-lo. Brunner (2010, p.299), no entanto, destaca que “o mistério de Deus não é exaurido pelo Filho”. “Esta liberdade de Deus, para efeito de salvação e juízo, luz e trevas, vida e morte, é o inescrutável mistério de Deus, que mesmo na revelação do Filho permanece um mistério”.

Antônio Maia - M.Div.

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BRUNNER, Emil. Dogmática – Vol 1, Doutrina Cristã de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2010











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