LUCAS-ATOS
LUCAS-ATOS
O terceiro evangelho e o livro de Atos dos Apóstolos
constituem uma única obra em dois volumes de um mesmo autor. De fato, Atos 1.1
passa essa impressão, pois o autor fala de um “livro anterior” e o
destinatário, Teófilo, é o mesmo do evangelho. Há, ainda, a opinião dos
críticos que afirmam que o estilo e o vocabulário desses dois textos apontam
para uma mesma autoria. A separação dos volumes deve ter ocorrido quando
começaram a fazer as primeiras coleções dos livros do Novo testamento,
colocando esse evangelho junto com os demais.
Embora ambos os textos não identifiquem, inequivocamente,
seu autor, evidências internas e externas apontam para a autoria do doutor
Lucas, um gentio, convertido, que acompanhava Paulo em suas viagens. Esse fato
pode ser observado em algumas passagens (Atos 16.8-10; 20.5-15; 21.1-18) e nessas
palavras do Apóstolo: “Lucas, o médico amado, e Demas enviam saudações.”
(Cl4.14). Além de outros testemunhos, o mais antigo manuscrito do terceiro evangelho,
o papiro p75, datado de 175 a 225 d.C., atribui esse livro a Lucas[1].
A leitura contínua desses dois textos revela a
grandiosidade da obra desse autor e sua intenção de registrar a “história dos
primórdios do cristianismo”[2]. Após cuidadosa investigação (1.3), Lucas passa a relatar
os “fatos que se cumpriram” (1.1), em Israel, situando-os, firmemente, no contexto
da História secular da época (1.5; 2.1-2; 3.1-2). Assim, em Lucas-Atos a ação
de Deus no mundo ganha concretude e deixa de ser mera ficção religiosa. O
espiritual invade o material e se manifesta por meio de fatos, no tempo e no
espaço. A salvação do homem por Deus se desenvolve na História.
Lucas percebe a importância do momento que vive e o
registra em sua extensa obra. Em seu relato está a entrada de Deus, no mundo,
por meio do nascimento de Jesus, o Filho. Este, ao mesmo tempo que revela Deus,
vive a humanidade em sua verdadeira expressão e a resgata do poder das trevas
pela obediência até à morte. Depois de sua ressurreição e ascensão aos céus, Lucas
mostra que os seres humanos não ficaram abandonados: Deus veio a eles, no
Pentecoste, na pessoa de seu Espírito, que passou a orientar a Igreja, na
pregação da salvação anunciada por Cristo.
Lucas-Atos narra a história de uma fé que começou em uma
insignificante província do império romano e que, no tempo de trinta anos,
chegou aos seus rincões e, inclusive, a Roma. Narra a história de um novo caminho
para chegar e seguir a Deus: Jesus. Os seguidores desse Caminho (16.17; 18.25,26;
19.9,23; 22.4; 24.14,22) viram Jesus como superior a Jonas e se arrependeram
(Lucas 11.32), isto é, mudaram suas mentes, reorientaram suas perspectivas e adotaram
um ponto de vista totalmente novo sobre o mundo e sobre Deus.
ANTÔNIO MAIA
DIREITOS AUTORAIS
RESERVADOS AO AUTOR
[1] CARSON, MOO E MORRIS. Introdução ao Novo
testamento. Vida Nova, p.125.
[2] Idem, p. 203