O HOMEM EM BUSCA DE DEUS
Um breve olhar sobre a humanidade e logo se percebe que o homem é um ser
muito religioso. O mundo está repleto de religiões. Elas estão por toda parte
e, às vezes, há inúmeras em uma mesma área geográfica ou cultura. Hoje, se
encontrássemos um povo perdido na floresta amazônica que nunca teve contato com
outros humanos, com certeza veríamos, em sua estrutura social, um sistema
religioso. Qual a razão desse fenômeno? Como explicar esse aspecto da natureza
humana: sua inclinação para o sagrado, para o divino?
É possível que o mito e a religião tenham sido as primeiras
manifestações do espírito humano. Provavelmente, ao tempo em que o ser humano
criava um, deu origem ao outro. Embora estejam muito interligados, mito e
religião são concepções distintas. O mito é uma narrativa simbólica, revestida
de religiosidade, que uma cultura desenvolve para explicar certas coisas, como
por exemplo, o mundo e a sua origem. Já a religião é uma manifestação de culto,
baseada em crenças que podem, ou não, englobar mitos. Nela, o homem procura
unir-se ao sagrado para alcançar conforto e sentido à vida[1].
A religiosidade, contudo, e ao que parece, não é uma marca humana
recente ou adquirida ao longo da História. Sua origem remonta ao passado
distante. A pesquisa sobre as mais antigas civilizações, como a Suméria e a
Babilônia, mostra que elas já dispunham de sofisticado sistema religioso. Esse
fato é intrigante, pois não se sabe como o homem, mergulhado em uma realidade
de matéria, concebeu uma estrutura de conceitos relativos a uma ordem não
concreta, espiritual. Como o homem primitivo chegou à noção de Divindade e do
mundo espiritual?
O salmista, em sua poesia, reflete esse aspecto da alma humana, quando
diz: “como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó
Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Salmo 42.1,2). Mas esse
desejo por Deus não significa que a humanidade anda com Ele. Ao contrário, o
anseio pelo Criador revela sua ausência no homem. É como se o ser humano
sentisse saudade de Deus. O homem não o vê, mas sabe que Deus existe além dessa
realidade. Ele sente isso porque carrega, em seu íntimo, traços e lembranças de
seu Criador. Lembranças de um tempo em que viveu com Ele em um contexto de
realidade original.
É exatamente esta a tese bíblica. O homem, no princípio de sua criação,
viveu com seu Criador em um estado de harmonia e plenitude. Mas em um dado
momento, ao fazer mau uso de sua liberdade, separou-se de Deus. Seu espírito
perdeu o fluxo de vida que recebia de seu Criador e, por essa razão, sua alma
se desorientou ao ler uma nova realidade de existência, marcada pela matéria e
separada de Deus. O seu corpo perdeu suas características iniciais, ficando
sujeito a um processo de deterioração que culmina na morte (Gênesis 2 e 3).
Hoje, o homem é como o “filho pródigo”, do qual falou Jesus Cristo: está em uma
terra distante cheia de prazeres e sofrimentos. Alguns homens e mulheres,
porém, em certas circunstâncias, lembram-se do Pai e decidem retornar para Deus.
Mas esse retorno não é tão simples assim. Não significa, apenas, aderir
a uma religião e se tornar religioso. As religiões são apenas produções
humanas, fruto da percepção de mentes, que em busca de Deus, elaboram
narrativas carregadas de percepções próprias, influenciadas pela cultura local.
Isso vale até mesmo para certas religiões ditas cristãs, que dominadas por uma
elite pensante, encobre o “core revelado por Deus” com camadas de tradições
religiosas e culturais. Nesses termos, as religiões constituem, no fundo,
obstáculos ao homem em sua busca por Deus. Mas Deus ama o que o busca e remove
todas as dificuldades para que seja encontrado. Deus falou a Israel, que se
encontrava no cativeiro babilônico: “vocês me procurarão e me acharão quando me
procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês…”
(Jeremias 29:13,14).
Antônio Maia – M. Div.
Direitos autorais reservados
[1] MAIA, Antônio. O Homem Em Busca de Si – Reflexões Sobre a Condição
Humana na Parábola do Filho Pródigo. Páginas 24 e 25