MUITO ALÉM DA RELIGIOSIDADE
O Apóstolo Paulo representa o exemplo mais marcante de que uma vida
religiosa nem sempre significa uma vida com Deus. Uma pessoa pode ser zelosa e
séria em sua prática religiosa, mas, ao mesmo tempo, estar longe de Deus.
Embora muitas religiões falem do Criador, seus seguidores não possuem uma vida
espiritual genuína, pois não tiveram um encontro pessoal com Ele. São apenas
fiéis seguidores de uma tradição religiosa humana, que embora tenha uma
aparência de sagrada, é incapaz de aproximar o homem do verdadeiro Deus.
É nesse ponto que se fundamentam as “guerras santas”, onde pessoas matam
outras em nome de Deus. Cegos, espiritualmente, amam mais a sua religião do que
ao próximo. Paulo foi assim. Segundo o evangelista Lucas, durante o
apedrejamento de Estêvão, “as testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um
jovem chamado Saulo... e Saulo estava ali, consentindo na morte de Estêvão”
(Atos7.58,60). Alguns estudiosos veem, nessas palavras, Paulo como encarregado
do apedrejamento. Mais à frente, Lucas escreveu: “Saulo, por sua vez, devastava
a igreja. Indo de casa em casa, arrastava homens e mulheres e os lançava na
prisão” (Atos8.3).
O Apóstolo dos gentios antes de conhecer a Cristo, orgulhava-se de sua
religiosidade. Israelita circundado ao oitavo dia de vida, da tribo de
Benjamim, “verdadeiro, hebreu; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo,
perseguidor da Igreja; quanto a justiça que há na Lei, irrepreensível...”. Mas
depois de seu encontro com Cristo, declarou: “o que para mim era lucro, passei
a considerar como... esterco para poder ganhar Cristo e ser encontrado nele,
não tendo a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a
fé em Cristo, a justiça que procede de Deus...” (Filipenses3.5-9).
Muitas pessoas estão aprisionadas a um processo de autossalvação.
Acreditam que serão salvas por seguirem os códigos de sua religião. Mas o
profeta Isaías disse que “as nossas justiças são como trapo de imundícia”
(64.6), isto é, não há nada tão nobre que possamos fazer que pague a nossa
salvação. Esse é o sentido da graça: o homem é incapaz, por si só, de
salvar-se, mas Deus, por muito amá-lo, providenciou sua salvação meio do
sacrifício de Jesus. Quando Paulo entendeu isso, abandou sua própria justiça e
abraçou “a que vem mediante a fé em Cristo”.
De acordo com o relato de Lucas, em seu encontro com o Senhor, na
estrada para Damasco, Paulo perdeu a visão e só voltou a enxergar por um
milagre divino, depois que o cristão Ananias orou por ele (Atos9). Essa
narrativa nos faz pensar que o homem sem Deus, ainda que religioso, não enxerga
a realidade espiritual. Enxerga as doutrinas, a liturgia, os costumes, a
iconografia, mas essas coisas constituem, apenas, uma espécie de interface
religiosa que aponta para o sagrado. Precisamos enxergar além dessa cortina
para ver Deus e o mundo espiritual, do contrário estaremos apenas no plano da
religião. E esse “enxergar”, como aconteceu com Paulo, é uma ação divina no
homem.
Foi por isso que Jesus disse a Nicodemos, um religioso conhecedor da Lei
e membro do Sinédrio: “é necessário que vocês nasçam de novo”, isto é, nasçam
do Espírito (João3.1-8). Só alcançamos as instâncias espirituais que estão
muito além da religiosidade quando abrimos a nossa mente, o nosso coração e
todo o nosso ser para Deus. Então, o Espírito de Deus, segundo Paulo, desperta
o nosso espírito para a verdadeira vida com Deus (Romanos814-17).
Escrevendo aos Efésios, o Apóstolo Paulo falou da necessidade de nossos
“olhos do coração” serem iluminado para compreender a realidade espiritual. Ele
mesmo, depois de seu encontro com Deus, vivenciou experiências que a
religiosidade morta não alcança. Aos Coríntios, falando dele mesmo, escreveu:
“conheço um homem em Cristo que, há catorze anos... foi arrebatado ao paraíso e
ouviu coisas tão maravilhosas que não podem ser expressas em palavras, coisas
que a nenhum homem é permitido relatar” (2Coríntios 12.2-4). É claro que só
poucos, altamente comprometidos com a obra de Deus, terão uma experiência
espiritual como essa. Mas serve para mostrar que há muito mais na vida com Deus
que no formalismo religioso.
Antônio Maia – M.Div
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