CONSUMISMO E ATIVISMO RELIGIOSOS
CONSUMISMO E ATIVISMO RELIGIOSOS
Não resta dúvida de que a
influência do neoliberalismo atinge todas as áreas da vida do chamado mundo
ocidental cristão, inclusive a espiritual, ao ponto de originar uma nova
estética religiosa. Essa doutrina política e econômica, que defende a não
participação do estado na economia, criou um modo de vida marcado pela
competição, egoísmo, imediatismo e consumismo. O ser humano foi coisificado e
reduzido a mero componente da grande engrenagem de produção e consumo.
O sentido da vida e a felicidade,
agora, estão na capacidade de adquirir bens. A pessoa, então, submete-se a
rigoroso esforço educativo para inserir-se no mercado de trabalho, mesmo que
isso a torne alguém que não gostaria de ser. Prisioneira do sistema, é alvo de
falsas necessidades geradas pelo marketing que cria valor nos bens. Estes,
porém, por causa do lucro e do avanço tecnológico, tornam-se, rapidamente,
ultrapassados o que faz as pessoas desejarem os modelos mais recentes, entrando
em um círculo vicioso.
O resultado objetivo desse
processo é que as pessoas se perdem de si mesmas ao assimilar o estereótipo do
sistema. Mergulhadas no ativismo, não olham mais para si, não se conhecem mais.
Um sentimento de vazio interior domina e com ele um constante senso de
insatisfação, que só é saciado pela busca do novo. Isso não apenas em relação
às coisas, mas também às pessoas de tal modo que o próprio ser humano se torna
descartável.
A força desse modelo social faz
refém, sem ele perceber, o próprio cristão. A vida espiritual, a devoção a Deus
se reduz a um mero item da agenda. A vida consagrada é substituída pela busca
do sucesso. É o espírito dessa ideologia agindo nas pessoas. A Igreja deixa de
ser a comunidade de adoração, a casa de oração para se tornar um centro de
atividades. Em muitos grupos, o culto, cujo centro deveria ser a adoração
eucarística, toma as feições de um programa de auditório. Assim, Igreja perde a
relevância e as pessoas, aos poucos, não veem mais motivo para
frequentá-la.
A vida espiritual, agora,
consiste em consumismo e ativismo religiosos. As pessoas vão à igreja em busca
sermões, músicas, shows gospels, pregadores, cds, livros. Transitam entre
igrejas de diferentes confissões a procura de estilos novos, diferentes e
interessantes. A vida interior, marcada pela oração, meditação na Palavra e
busca da santidade é substituída pela participação em eventos, palestras,
encontros, simpósios, seminários. Ser cristão não envolve mais o “novo
nascimento” (Jo3.1-21), a “vida no Espírito” (Rm8.1-17) e ser “luz do mundo”
(Mt5.14), mas em consumir bens religiosos e participar de atividades.
A sociedade mudou, é verdade, mas
a necessidade do homem permanece a mesma: Deus. Todo esse ativismo, todo esse
consumismo, toda essa busca por algo que lhe satisfaça não é outra coisa senão
a busca por Deus. E só a Igreja de Cristo tem a mensagem e o caminho que conduz
o ser humano a Deus: “o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como
resgate por todos” (1Timóteo2.5). Posto isso, é conveniente uma autocrítica.
Como não banalizar o evangelho de Cristo? Como não aviltar a Revelação divina?
Como manter a dignidade do querigma da Igreja? Como manter a relevância da
Igreja de Cristo nessa nova sociedade capitalista?
Antônio Maia – M.Div
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