EU VENCI O MUNDO

Momentos antes de ser traído e preso, Jesus, em conversa com seus discípulos, disse: “neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16.33). Era uma palavra de encorajamento a seus seguidores e uma autoavaliação positiva de sua atuação. Mas, em que sentido Jesus quis dizer “eu venci o mundo”, pois logo em seguida seria torturado, noite à dentro, e no dia seguinte seria crucificado e morto? Esse fim condiz com alguém que foi um vencedor no mundo?

Jesus sabia do sofrimento que se aproximava, mas sua confiança no Pai, que o ressuscitaria, o levou a declarar sua vitória sobre o mundo. Essa palavra “mundo” é uma ênfase joanina. Ela aparece mais de cem vezes, em sua literatura, com diferentes significados. Aqui, nessa passagem, significa “o sistema humano em oposição aos propósitos divinos” [1]. Sistema esse que se estrutura no pecado, no uso e no abuso do outro como meio de alcançar uma glória que despreza a Deus e o próximo. Jesus renunciou a tudo isso.

Bem verdade é, porém, que Jesus era como Adão antes da Queda, isto é, sem pecado. Tanto que, Paulo o chamou de “o segundo Adão” (1Coríntios 15.45). Embora fosse como todo os outros homens, ou seja, “de carne e sangue” (Hebreus 2.14), Ele tinha uma origem divina. Não houve participação masculina no seu nascimento. Ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem (Lucas 1.26-36). Ele mesmo, nessa última conversa com os discípulos, disse que veio da parte de Deus (João 16.28) e os discípulos creram nessa procedência divina de Jesus. Eles disseram: “nós cremos que vieste de Deus” (João 16.30).

No entanto, essa condição especial de Jesus não era algo inalterável, pois Ele poderia vir a pecar, do contrário não haveria sentido em o Espírito de Deus levá-lo para o deserto a fim de ser tentado pelo Diabo (Mateus 4.1). No deserto, Ele renunciou às ofertas da fama, do poder e das riquezas. Mas as tentações não se resumiram àquele momento. Ao longo da vida Ele sofreu outras tentações. Após a primeira multiplicação de pães, por exemplo, os judeus procuraram proclamá-lo rei de Israel (João 6.15). Na cruz o tentaram a abandonar sua missão, desafiando-o a livrar-se daquele sofrimento se Ele fosse, realmente, quem dizia ser.

Contudo, Jesus não cedeu às tentações. A sua força contra o pecado estava na sua confiança inabalável de sua procedência divina (João 16.28) e na sua vida de oração profunda (Marcos 1.35; Lucas 6.12). Ele morreu sem pecado. O autor de Hebreus escreveu que Ele “passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (4.15). Nós, cristão, também podemos vencer o mundo não nos rendendo ao seu modelo de sucesso e depositando a nossa fé em Cristo. João escreveu na sua primeira carta: “o que é nascido de Deus vence o mundo; e essa é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Que tenhamos a mesma atitude dos primeiros discípulos e digamos: “nós cremos que vieste de Deus” (João 16.30).

[1] Bíblia Nova Versão Internacional comentada. Editora Vida, São Paulo, 2000, p. 1786.

Antônio Maia - M.Div.

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