NOS CRIASTES PARA VÓS

 


Santo Agostinho (354-430), teólogo e filósofo cristão, em sua obra Confissões, disse que procurou a felicidade e o sentido da vida nas paixões humanas. Mas isso só lhe trouxe angústia e aflição a ponto de considerar-se “um lugar de infelicidade, onde não podia permanecer... mas de onde não podia afastar-se” [1]. Depois de muita busca e luta interior, porém, ele se encontrou com Deus e pôde, então, declarar: “nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em Vós” [2].

A experiência desse estudioso é a de todos nós, pois o homem é um ser voltado para Deus. A Arqueologia e a História atestam que a expressão religiosa é um traço característico da humanidade. Esse fenômeno da religiosidade humana se encontra tanto nas culturas e povos antigos quanto na sociedade científica e tecnológica dos dias atuais. Há religião por toda parte, onde quer que se ande e, às vezes, inúmeras numa mesma área geográfica [3]. 

Mas esse exorbitante número de religiões não significa que o homem anda com Deus. Ao contrário, é uma evidência de que ele se encontra perdido e separado do Criador. As múltiplas visões divinas, esboçadas nas crenças religiosas, mostram que ele não o conhece, mas que carrega, no íntimo, alguma coisa que o faz lembrar daquele que o criou. É como se o homem sentisse saudade de Deus e desejasse reencontrar-se com Ele. Algo, no íntimo do ser humano, atrai-o à Divindade. 

Por mais realizado e pleno que se sinta, o homem percebe, no profundo de si, que ainda algo lhe falta. E esse algo é Deus. A ausência de Deus, no homem, impele-o a desejá-lo para que se torne completo. Ele não consegue ser feliz longe do amor e da presença de seu Criador. A sagrada Escritura diz: “Deus é amor” (1João 4:16). E isso pode ser visto no que disse Deus, aos judeus, por meio do Profeta Jeremias: “com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (31.3). Foi esse amor que o levou a entrar na humanidade, por meio do Filho, e doar-se na cruz em favor do homem.

Por essa razão, mesmo separado de Deus por causa do pecado original, a religiosidade é uma das marcas mais forte do ser humano. Como ele tem sua origem em Deus, o ser de Deus o atrai. Assim, perdido, em meio ao ativismo e ao materialismo, ele sente fome de Deus e o deseja. Cego espiritualmente, então, ele cria religiões para explicar sua existência no mundo e busca o sentido da vida nas riquezas, na fama e no poder. Mas, esses caminhos não satisfazem os anseios de sua alma.

O ser humano está morto, espiritualmente diante de Deus, por causa do pecado, afirma o Apóstolo Paulo (Efésios 2.1-6). E essa afirmação está de acordo com o ensino de Jesus, que disse que as pessoas precisam “nascer de novo”, isto é, nascer espiritualmente, nascer para as coisas espirituais, nascer para Deus. Disse Jesus: “ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo... É necessário que vocês nasçam de novo... O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito” (João 3.1-8). Ou seja. o "novo nascimento" é um mistério. Não sabemos como acontece, mas é nele que o homem é “gerado de novo” para Deus (1Pedro 1.3).

Só quando passamos por essa experiência espiritual, essa transformação interior operada pelo Espírito Santo, em nós, é que nos reencontramos com Deus. E assim, toda a ansiedade para com as coisas da vida e todo o medo da morte se dissipam, pois sabemos que, agora, retornamos à presença de Deus. É como disse Santo Agostinho: “nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em Vós”.

Antônio Maia – Ph.B. - M.Div

Direitos autorais reservados

[1] AGOSTINHO, Santo. Confissões. Petrópolis: Ed Vozes, 2011, p.84

[2] AGOSTINHO, Santo. Confissões. Petrópolis: Ed Vozes, 2011, p.25

[3] MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si. Site: amazon.com.br

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