A CRIAÇÃO E O CONHECIMENTO DE DEUS

 


Pode o homem conhecer a Deus fora da “revelação especial” dada por Ele à humanidade, por meio dos profetas e do Filho, Jesus Cristo? Ou seja, pode o ser humano alcançar a salvação de sua alma pelo conhecimento de Deus que vem pela Criação, o que os estudiosos chamam de “revelação geral”? Essa questão é relevante pois, ao tempo em que aponta o interesse divino pela humanidade caída, procurando a ela revelar-se, mostra o homem como um ser perdido, no mundo, separado de seu Criador.

É fato que quando o ser humano olha para a imensidão do universo, sente-se perdido e desorientado, pois não sabe quem o colocou ali. É como se ele estivesse em um fosso existencial. Não sabe de onde veio, para onde vai e qual a razão de estar no mundo. Sua essência original se desestruturou. Sendo uma síntese unitária de matéria e espírito, seu corpo, na condição pós Queda, progride em direção à morte e seu espírito já se encontra morto, pois se desligou de seu Criador. Ao morrer, ao deixar esse fosso, aquela síntese original se desfaz. O corpo se desintegra e o espírito entra em uma existência eterna sem Deus.  É o efeito da Queda, do pecado original. Mas, mesmo caído, por ter origem em Deus e carregar consigo a “imagem e semelhança” de seu Criador, ao contemplar a Criação, vem a ele a ideia de Deus. Mas, de um modo turvo, como uma lembrança embaçada, não nítida. 

O homem, caído, não enxerga o Deus verdadeiro na imensidão do mundo. Ele, quando muito, chega à ideia de Deus. Por isso muitos confundem e adoram a própria Criação como Deus (panteísmo). Já muitos outros adoram elementos da Criação como deuses (idolatria). E, por outro lado, outros, ao observarem o universo, veem só matéria e negam a existência divina. É como afirma o salmista: “diz o tolo em seu coração: Deus não existe” (Salmos 14:1). Essa cegueira espiritual é outro efeito da Queda, de modo que ateísmo e religiosidade constituem grandes marcas do homem separado do Criador.   

Mas embora essa desorientação, o testemunho de Deus sempre esteve presente na humanidade. Seja pelas coisas criadas ou pelos profetas, pelo próprio Deus, na pessoa do Filho, e pela Igreja. Veja o que diz o salmista, “os céus declaram a glória de Deus; e o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Salmos 19:1). A Criação traz consigo as marcas de seu Criador, de modo que há um testemunho constante do verdadeiro Deus no universo. Mesmo assim, o homem continua perdido na idolatria e no ateísmo e só percebe Deus aquele que é alcançado pela graça que há em Cristo Jesus, isto é, pela revelação histórica. 

Paulo, escrevendo aos Efésios, afirma que o homem está morto espiritualmente, isto é, está morto para Deus, para a realidade espiritual, por causa do pecado (Efésios 2:1). Logo, ele não enxerga o Criador, na Criação, mas apenas a ideia de “deus”. Isso, contudo, não o isenta de sua responsabilidade por sua condição espiritual. Esse mesmo Apóstolo, escrevendo ao Romanos disse: “...pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendido por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis...” (1:19,20). 

Por essa razão, Deus, por seu grande amor pela humanidade, usa esse tempo que o ser humano passa nesse fosso existencial para dar oportunidade a ele de reencontrar-se com o Criador e retornar à condição original. Jesus disse: “quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele” (João 15:21). O conhecimento do verdadeiro Deus só chega ao homem se lhe for revelado. O homem pecador não alcança, por si só, Deus. Nesse ponto, observa-se o amor divino pelo homem a ponto de revelar-se no Filho, que morreu em uma cruz para salvá-lo. É a fé nesse ato abre a mente humana para enxergar Deus e se reencontrar-se com Ele. A fé é a linguagem pela qual lemos e entendemos Deus.

Antônio Maia – M. Div.

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