JESUS, INCOMPREENDIDO. PARTE I
Mesmo depois de mais de dois
milênios de cultura cristã, Jesus permanece incompreendido para muitos. Até
seus discípulos, de início, não o compreenderam. Durante todo o tempo de sua
atuação terrena eles não o entendiam. Certa noite, por exemplo, durante uma
travessia do mar da Galileia, enquanto Ele dormia na popa do barco, sobreveio
uma grande tempestade de tal modo que os discípulos se desesperam e o acordaram,
clamando por socorro. Então, Jesus repreendeu o vento e a fúria do mar e logo
veio grande calmaria. O texto sagrado diz que, ao verem Ele fazer aquilo, os
discípulos ficaram admirados e falavam uns com os outros: “quem é este que até
o vento e o mar lhe obedecem?” (Marcos 4: 35-41).
Uma das causas para essa
incompreensão por parte dos discípulos era que, naquela época, os judeus
aguardavam a chegada de um Messias político-nacionalista que os libertaria de
Roma e elevaria Israel a um status de proeminência entre as nações. Eles viam Jesus
como esse Messias (João 1:35-42), no entanto, Jesus não se envolvia com
política. Embora Ele fosse como todos os outros homens, tendo uma profissão, um
endereço fixo, pais, irmãs e irmãos (Marcos 6:1-3), Ele era dotado de notável poder
espiritual e profunda originalidade em seu ensino e pregação. Esses aspectos
faziam eles não compreenderem Jesus.
Mas essa incompreensão sobre a
pessoa de Jesus não estava limitada apenas aos discípulos. Certa vez, Ele
retornou à cidade onde cresceu, Nazaré, e, ao pregar na sinagoga, muitos de
seus conterrâneos diziam: “De onde vem essas coisas?... Que sabedoria é esta
que lhe foi dada? E esses milagres que ele faz? Não é este o carpinteiro, filho
de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco as suas
irmãs?” (Marcos 6:1-3). Noutra oportunidade, após a primeira multiplicação dos
pães, em conversa com algumas pessoas, alguns disseram: “este não é Jesus, o
filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe...?” (João 6:42).
Essa natureza complexa de Jesus,
absolutamente humano e admiravelmente divino, dificulta até hoje a compreensão de
sua pessoa e do mistério de seu Ser. Mistério esse que só pode ser entendido
pela fé. Mas não uma fé qualquer, apenas aquela que vem de Deus como um dom que
abre os olhos do ser humano para o entendimento do sagrado (Efésios 2:8,9). Ao
falar sobre o mistério de sua pessoa, após a primeira multiplicação dos pães,
Ele comenta como o homem chega e esse tipo de fé: “ninguém pode vir a mim, se o
Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia. Está
escrito nos profetas: ‘todos serão ensinados por Deus’ (Isaías 54:13). Todos os
que ouvem o Pai e dele aprendem vêm a mim” (João 6: 44,45). É desse modo que se
alcança essa fé.
Mas retornando ao primeiro
aspecto que levava os discípulos não compreenderem Jesus, isto é, a expectativa
messiânica, o que se pode dizer? Bem, essa expectativa pela vinda de um
Messias, na época de Jesus, vinha desde os tempos da profecia de Natã a Davi, na
qual Deus manda esse profeta dizer àquele rei: “quanto a você, sua dinastia e
seu reino permanecerão para sempre diante de mim; o seu trono será estabelecido
para sempre” (2Samuel 7:16). Deus manda essa mensagem a Davi, por meio de Natã,
porque na descendência dele, Davi, entraria, no mundo, o Criador, na pessoa do
Filho, Jesus Cristo para eliminar os efeitos do pecado original sobre o homem e
religa-lo a Deus (Salmo 89:30-38; Isaías 9:1-7; Mateus 1:1; Lucas 1:32,33,69;
Atos 2:30; 13:23; Romanos 1:2,3).
Mas com o passar do tempo, o
pecado e a apostasia levaram Israel secularizar-se e esse sentido espiritual dessa
expectativa messiânica desapareceu. Surgiu, em seu lugar, o desejo da vinda de
um Messias político-nacionalista que elevasse Israel a um status importante
como nação no mundo. Esse desejo vai fortalecer-se, ainda mais, com a dominação
de Israel, por mais de meio milênio, pelos impérios babilônico, persa, grego e
romano.
Por isso os discípulos não compreendiam
Jesus, pois Ele exercia um messianato espiritual, que buscava livrar o ser
humano da morte eterna causada pelo pecado em seu ser. No pensamento deles, o
Messias vinha restaurar o reino terreno de Israel. Foi nesse sentido que André,
ao encontrar-se com Pedro, disse: “achamos o Messias” (João 1:41); assim como Natanael,
ao encontrar Jesus, pela primeira vez, disse: “Mestre, tu és o Filho de Deus,
tu és o Rei de Israel” (João 1: 49).
Esse sentido de Messias político
também pode ser visto nas conversas das pessoas, após Jesus realizar a primeira
multiplicação de pães. Eles diziam: “sem dúvida este é o Profeta que devia vir
ao mundo. Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se
novamente sozinho para o monte” (João 6:14,15). Até mesmo nos momentos finais
de sua presença entre os discípulos, após a sua morte e ressurreição, os
discípulos perguntaram: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a
Israel?” (Atos 1:6).
Só depois da decida do Espírito
Santo, em seus corações e mentes, é que eles alcançaram a real compreensão de
Jesus Cristo. Sobre esse aspecto, Jesus disse: “o Conselheiro, o Espírito
Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará
lembrar tudo o que eu lhes disse” (João 14: 26). A ação do Espírito Santo sobre
os discípulos foi de tal ordem que eles saíram, pelo mundo, pregando a Palavra
de Jesus, que chegou até aos dias atuais.
Hoje, Cristo permanece
incompreendido para a maioria da humanidade. Questões culturais e políticas,
bem como o estilo artificial e materialista da sociedade científica e
tecnológica em que o ser humano vive impedem o homem atual de entendê-lo e o
afastam cada vez mais de Deus. No entanto, aqueles que entendem que há algo
além da matéria, podem encontrar, em Deus, um sentido mais profundo e belo para
a vida e para a existência. Pois, segundo a sagrada escritura, Deus está de
braços abertos àqueles que o buscam. Para tais, Ele fala o mesmo que disse aos
judeus, na iminência da partida para o cativeiro babilônico: “clame a mim e eu
responderei e lhe direi coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece” (Jeremias
33:3).
Antônio Maia – M. Div
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