COMO DEUS
Observando a humanidade, nota-se que cada ser humano apresenta um desejo
de ser o melhor dentre os demais. Se não há esse desejo, é porque os rigores da
vida ou a reflexão profunda eliminaram ou reduziram essa vontade. Mas, no
íntimo, todos estão em busca de riquezas, de fama e de poder. As pessoas querem
estar em destaque, serem reconhecidas como importantes, querem galgar as
posições mais elevadas e serem admiradas. A ganância, no homem, não tem limite
e, por isso, ele nunca está satisfeito. Ele quer sempre mais e mais. Há uma
prepotência latente em alguns e, em profusão, em outros. Tal comportamento tem
origem no pecado original, quando o homem desejou ser como Deus.
Foi isso que despertou o interesse do primeiro casal pelo fruto
proibido. Deus havia dito para não comer aquele fruto, pois morreriam. A
“serpente”, porém, disse a Eva: “certamente não morrerão! Deus sabe que no dia
em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão
conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3.5). Nesse ponto, revela-se a natureza
do pecado original, pois a fala da serpente colocou em dúvida a honestidade de
Deus em relação ao ser humano. O pecado adâmico foi, então, mais que uma
simples desobediência. Seduzido pelo desejo de ser “como Deus”, ele duvidou do
caráter divino e deu ouvidos ao Tentador.
Esse aspecto da natureza humana, isto é, seu desejo de proeminência em
relação aos demais, imprime um clima de competição nos relacionamentos. As
pessoas não querem apenas auto aprimorar-se, mas serem superiores às
outras. Esse espírito de disputa que dominou a história humana, desde a
Queda, deu origem a este modelo de mundo que temos hoje, caracterizado pelo
domínio do homem pelo homem. É nesse aspecto do homem que se encontra a origem
da escravidão, que existe até hoje, do preconceito racial, das guerras e do
surgimento, ao longo da História, dos grandes impérios mundiais.
O homem perdeu sua essência na Queda e, agora, para sentir-se relevante
quer ter poder sobre os outros. Isso pode ser observado até entre os discípulos de Jesus. Quando se dirigiam para Jerusalém, pela última
vez, os Apóstolos Tiago e João se aproximaram de Jesus, em particular, e
fizeram o seguinte pedido: “permite que, na sua glória, nos assentemos um à tua
direita e outro à tua esquerda”. Eles achavam que Jesus ia fazer uma rebelião,
expulsar os romanos e assumir o trono de Israel e, por isso pediram cargos
importantes. Mas Jesus os reuniu e disse que entre eles não seria assim...
“quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser
ser o primeiro deverá ser escravo de todos” (Marcos10.37,43,44).
Devemos, sim, ser como Deus, mas no amor, na pureza e na santidade, pois
fazendo isso nos aproximamos do ser que éramos antes do primeiro pecado. A
cobiça despertada, em Eva, pela serpente alterou sua visão das coisas. É como
disse a “serpente”: “seus olhos se abrirão”. Agora o Homem nem, sequer, ver
Deus e o próximo o vê como alguém que pode explorar. Por isso Jesus falou
aquelas palavras sobre ser servo aos discípulos. O Apóstolo Paulo escrevendo, aos Filipenses, também disse algo
semelhante: “nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente
considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos
seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (2.3,4).
No Éden, o homem tomou o caminho da arrogância e, por causa disso, teve sua natureza alterada, passando a experimentar a morte. Agora, para voltar à condição original, ele precisa pegar o caminho da humildade. Por isso Jesus entrou no mundo, para nos ensinar esse caminho. Paulo disse: “seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens... por isso Deus o exaltou a mais alta posição” (Filipenses2.5-9).
Desse modo, de acordo com a sagrada Escritura, no fim dos tempos, o ser humano, aquele que se rendem a Deus, por meio da fé em Cristo, terá "a imagem e semelhança de Deus" que ele carrega, em seu ser, restaurada. Será uma nova criação, totalmente restaurada, corpo e espírito. Mas, para isso, durante esta vida, ele precisa assumir “a mesma atitude de Cristo” de esvaziar-se de si mesmo e confiar em Deus e no sacrifício de seu Filho, na cruz.
Antônio Maia – Ph.B., M. Div.
Direitos autorais reservados
[1] MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si – Reflexões Sobre a Condição Humana na Parábola do Filho Pródigo, p.63 (www.amazon.com.br)
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