OS EXCLUÍDOS EM LUCAS
Não era fácil a vida em Israel, à época de Jesus. Pelo menos para
mulheres, crianças, pastores, pobres e “pecadores”. Essas pessoas eram vistas
como sem valor na sociedade judaica do primeiro século. Esse fato é notado pela
especial atenção que o evangelista Lucas dedica à forma como Jesus tratava
esses seres humanos. Os registros do terceiro evangelho mostram que os judeus,
embora marcados por forte expressão religiosa, constituíam, em verdade, uma
sociedade machista e discriminatória.
As mulheres eram tidas como seres inferiores, uma propriedade dos
homens. Não tinham acesso ao ensino religioso. “Os rabinos consideravam pecado
ensinar uma mulher” [1]. Lucas, porém, mostra Jesus ensinando-as com o mesmo
esmero com que ensinava os homens. Para Ele, as mulheres também tinham um papel
no plano de Deus. O evangelista registrou que não apenas os apóstolos
acompanhavam Jesus “pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino
de Deus”, mas também algumas mulheres “que ajudavam a sustentá-los com seus
bens” (Lc8.1-3).
Outras duas classes marginalizadas eram as crianças e os pastores. Estes
eram discriminados porque seu trabalho os impedia que dessem atenção às
exigências da pureza cerimonial. A palavra deles não tinha nenhum valor nos
tribunais [2]. No entanto, foram a pessoas como essas que anjos apareceram para
anunciar o nascimento do Filho de Deus (Lc2.8-20). Já as crianças, que eram
educadas com castigos e violência, Jesus as tratou como modelo para censurar o
orgulho dos discípulos (Lucas9.46-48) e o menosprezo deles por elas
(Lucas18.15-17).
Os pobres, que eram desprezados pelas autoridades e religiosos,
receberam de Jesus um olhar especial. Inspirando-se neles disse:
“bem-aventurado vocês, os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus”
(Lucas6.20). Ao ver a viúva de Naim, compadeceu-se dela e ressuscitou seu filho
(Lucas7.11-17). Quanto aos “pecadores”, designação que recebiam as pessoas de
má fama (cobradores de impostos, adúlteros e assaltantes) e as que se recusavam
a seguir a lei mosaica conforme a interpretação “oficial”, Jesus mantinha
relações com eles, pois não veio não para os justos, mas para esse tipo de
pessoas (5.27-31). Segundo Marcos, muitos desses “pecadores” eram seguidores de
Jesus (2.15).
Por que havia tanta discriminação e falta de amor numa sociedade tão
religiosa quanto Israel, à época de Cristo? Lucas responde essa pergunta
registrando a indignação do dirigente de uma sinagoga ao ver Jesus curar uma
mulher aleijada, no sábado. Para esse religioso não era correto curar no
sábado. Jesus o chamou de hipócrita (13.10-17). Muitas vezes os religiosos
colocam a forma acima do conteúdo. São zelosos nos costumes, rituais e esquecem
que a essência do evangelho de Cristo é o amor. Muitos, preocupados com suas
posições, estão sempre prontos para julgar e não a acolher.
Antônio Maia – M. Div.
Direitos autorais reservados
[1] CARSON, MOO, MORRIS. Introdução ao Novo Testamento. Vida Nova, p.146
[2] TALMUD (comentário rabínico sobre lei, ética e costumes do
judaísmo)