UMA NOVA ESTÉTICA RELIGIOSA
Este breve texto não constitui uma crítica destrutiva a pessoas ou
instituições. Antes, porém, trata-se de um convite a pensar sobre a Igreja de
Cristo, no século XXI. É fato inquestionável que a ideologia capitalista dita o
modo de vida no mundo ocidental cristão. Sua influência, no tocante à igreja, é
de tal ordem que tem alterado a doutrina, a organização, e feições da
espiritualidade, dando origem a uma nova estética religiosa e espiritual.
O capitalismo moldou, tão profundamente, a sociedade ocidental que sua
influência vai muito além da religião. Chega às instâncias da arte, da cultura
e da educação. Esta, por exemplo, em vez de formar o homem para a vida como
pessoa humana, busca desenvolver competências para tornar o homem mero
componente dos sistemas de produção. Segundo essa ideologia, o sentido da vida
é o sucesso, o acúmulo de riquezas, é estar em destaque. Foi dentro dessa ótica
que foi criada a Teologia da Prosperidade, segundo a qual é desejo de Deus a
riqueza material dos fiéis. É obvio que não é esse o sentido do evangelho de
Jesus Cristo, que, por sinal, foi um homem pobre e ensinou: “não acumulem para
vocês tesouros na terra...” (Mateus 6.19,20).
Há, entre muitos religiosos, um fascínio pelo crescimento da igreja que
pastoreiam. A ordem de pregar o evangelho e levar pessoas a um encontro com
Deus tem sido cumprida menos com o anúncio do querigma e mais com a aplicação
de técnicas de crescimento de igrejas. Há uma busca pelo “sucesso”, pela
admiração e pela fama entre muitos sacerdotes da igreja atual. Movidos, sem
perceber, pelo estilo de vida capitalista, esses deixam a condição de servos e
se tornam senhores, deixam de servir para serem servidos, de se disporem às
pessoas para dispor-se delas. O capitalismo enfraqueceu a vocação sacerdotal.
Como resultado do crescimento, muitas igrejas sofreram uma mudança no
“layout” de seus templos e na liturgia do culto. O altar ou o lugar onde fica o
púlpito, de onde é feita a homilia, transformou-se em palco e o culto em algo
parecido, as vezes, com um show ou uma apresentação com destaque para o período
de músicas e o sermão. Há pouca leitura bíblica, pouca oração e as pessoas
presentes participam privadas de uma relação dialogal com Deus. Uma liturgia
que gera uma espiritualidade fundada em sensações visuais e auditivas sem
interiorização da fé, do sagrado.
Essa nova estética religiosa e espiritual não contempla o fato de que o
culto cristão ocorre na individualidade do testemunho de cada crente no mundo.
E que, no templo, dar-se a adoração coletiva da igreja, o ensaio eucarístico
cheio de esperança pela reunião com o Senhor que disse: “desejei ansiosamente
comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer. Pois eu lhes digo: não comerei
dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus” (Lucas22.15,16). A alusão a
vários assuntos, no púlpito desses cultos, que não se relacionam com o
Evangelho de Cristo, não conduzem à adoração a Deus. O pouco espaço para a
oração, nessa nova estética espiritual, não leva em conta a palavra de Jesus
que diz: “a minha casa será chamada casa de oração” (Mateus 21.13).
Antônio Maia – M. Div.
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