NÃO SABEMOS O QUE PEDIR
Se Jesus chegasse a você e lhe perguntasse “o que você quer que eu lhe
faça?”, você saberia responder? Ele fez essa pergunta a um homem, “sentado à
beira do caminho”, próximo à cidade de Jericó, o qual, prontamente, respondeu:
“Senhor, eu quero ver” (Lucas18.40). Alguém que ler esse relato de Lucas
(18.35-42) pode achar estranha essa pergunta de Jesus por considerar óbvia a
resposta do cego. Contudo, essa questão não parece tão simples assim. Ela trata
do fato de não sabermos o que pedir a Deus em virtude de não conhecermos a nós
mesmos.
O pedido único daquele homem a Jesus mostra que ele conhecia a si mesmo,
sua real condição e sua verdadeira necessidade. É claro que deveriam ser muitas
as suas carências devido ao seu problema físico. Contudo, ele faz apenas um
pedido. Mergulhado na escuridão decorrente de sua enfermidade, ele podia olhar
para dentro de si. Por isso ele sabia que só a sua cura o conduziria a um
estado de paz interior e satisfação plena de suas outras necessidades. Certa
vez, Jesus disse: “peçam e lhes será dado...” (Mateus7.7). Mas, conhecemos a
nós mesmos para sabermos o que precisamos e o que devemos pedir a Deus, em
oração?
Nem todos têm a experiência de conhecer a si mesmo. Estamos muito
conectados ao mundo e à sua correria. Olhamos para muitas coisas, mas pouco
para nós mesmos. Estamos mergulhados no trabalho, no ativismo e, às vezes,
vivemos uma imagem irreal de nós perante os outros. Por isso, nossos pedidos
nem sempre brotam de nossas necessidades, mas de nossos desejos. James Houston,
em sua obra Prayer, The Transforming Friendship, escreveu: “nossa primeira
oração precisa simplesmente dizer a Deus: oh, Deus, ajuda-me a orar porque não
sei orar por mim mesmo”[1]. Tal prece revela que não sabemos orar por não
conhecermos as nossas mais profundas necessidades.
Nossa imensa lista de pedidos mostra que não sabemos o que, realmente,
queremos. É claro que necessidades importantes surgem, em nossa vida, e as
percebemos. Mas, de modo geral, oramos o trivial e por frivolidades decorrentes
de nossa cegueira espiritual. Se olharmos, porém, para o nosso interior, vamos
notar necessidade relevantes, como por exemplo, o próprio Deus. Precisamos de
Deus. O Apóstolo Paulo disse aos Romanos: “no íntimo do meu ser tenho prazer na
Lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando
contra lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua
nos meus membros” (7.22,23).
A Queda nos tornou um estranho a nós mesmos. Nos perdemos de nós no
momento em que nos separamos de Deus, na decisão adâmica[2]. Por isso não nos
conhecemos plenamente e, em consequência, não sabemos orar. Paulo disse isso:
“não sabemos orar”, mas, segundo ele, o Espírito nos ajuda, nessa fraqueza,
“intercedendo por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26). De certo modo,
o homem é como aquele cego de Jericó, pois não discerne, plenamente, a si e o
mundo espiritual. Paulo, escrevendo aos Efésios, disse: “oro também para que os
olhos do coração de vocês sejam iluminados a fim de que vocês conheçam a
esperança para a qual ele os chamou...” (1.18). Assim, como aquele cego,
precisamos orar também: “Senhor, eu quero ver”
[1]
Antônio Maia – M.Div
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