O TEMPLO DE JERUSALÉM
No contexto das aparições de Yahweh
a Moisés, durante a peregrinação no deserto, Ele ordenou àquele profeta que
construísse um tabernáculo: “e farão um santuário para mim, e eu habitarei no
meio deles” (Êxodo25.6). Nele ficava a arca e, dentro dela, as tábuas da Lei. “Ali,
sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a arca da
aliança eu me encontrarei com você e lhe darei todos os meus mandamentos destinados
aos israelitas”, disse Deus a Moisés (Êxodo25.22). Na época de Davi (1Crônicas22.1-6),
quase cinco séculos depois, o tabernáculo foi substituído por um suntuoso
templo erguido por seu filho Salomão (1Reis6).
Com o passar do tempo, o pecado e o
distanciamento de Deus levaram os judeus a verem a arca da aliança e o templo
como espécies de amuleto. Certa vez, ao sofrerem pesada derrota contra os
filisteus, mandaram buscar a arca da aliança, pois acreditavam que a sua
simples presença, os levaria à vitória. Contudo, não foi isso que aconteceu:
foram novamente derrotados (1Samuel4.1-11). A narrativa do texto mostra que os
israelitas estavam, em relação a Deus, com a mesma visão pagã que os filisteus
nutriam sobre seus deuses. Acreditavam que “a deidade está identificada com o
símbolo da sua presença e que o favor de Deus pode ser automaticamente obtido
mediante a manipulação do símbolo”[1].
Ainda sobre esse aspecto, Jeremias
mostra que, a pesar da vida de pecado, havia, na sua época, o mesmo senso de proteção
por causa da existência do templo em Jerusalém. Mas o profeta os advertia:
“corrijam a sua conduta... não confiem nas palavras enganosas dos que dizem
este é o templo do SENHOR, o templo do SENHOR, o templo do SENHOR” (7.1-15).
Mais à frente, Deus, por meio desse profeta, falou: “farei deste templo o que
fiz do santuário de Siló, e desta cidade um objeto de maldição entre todas as nações
da terra” (26.6). Era em Siló que ficava o tabernáculo após a conquista de Canaã,
mas depois foi destruído. Igualmente, no ano de 586 a.C., Jerusalém e o templo
foram destruídos pelo rei da Babilônia.
À época de Jesus, observava-se a
mesma postura idólatra em relação ao templo. Jesus condenou esse comportamento
e o modelo de espiritualidade professado pelos que o administravam (Mateus21.12,13
e Mateus23). Chegou também a profetizar sua destruição (Mateus 24.1,2). Em um
de seus ensinos, referindo-se a si, Ele disse: “eu lhes digo que aqui está o
que é maior do que o templo”. Em outro discurso Ele falou: “destruam este
templo, e eu o levantarei em três dias... mas o templo do qual ele falava era o
seu corpo” (João2.19-21). Só Deus é digno de adoração. O templo da época de Cristo
só foi totalmente concluído em 64 d.C.[2], seis anos antes de sua completa destruição pelos
exércitos romanos.
É claro que não há nenhum problema
com templos e outros símbolos religiosos. Eles até têm uma função positiva,
quando despertam o homem, mergulhado em uma realidade concreta, para a vida
espiritual. O problema está em colocar esses ícones no mesmo nível da Divindade
e passar a adorá-los ou ter uma reverência extrema por eles. Isso é
religiosidade morta, idolatria. A proposta de Jesus é uma espiritualidade viva no interior, no
íntimo do homem e que se projeta para o exterior por atos de justiça. O Apóstolo Paulo, falando sobre a vida espiritual, disse: “acaso não
sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês,
que lhes foi dado por Deus...” (1Coríntios 6.19). A adoração a Deus deve acontecer, antes, em nosso interior, no altar que erguemos a ele em nossa mente e em nosso coração.
Em conversa com uma samaritana,
Jesus falou que o local de adoração é irrelevante. O que conta é a forma, que
deve ser “em espírito e em verdade... Deus é espírito” (João4.19-24). Desde o tempo
dos profetas se observa a nulidade do templo se a adoração não é
verdadeira. Ressalta-se de relevância, ainda, o fato de na “nova Jerusalém”,
que desce do céu, no Apocalipse, não existir templo. Veja o texto: “não vi
templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu
templo”(21.22). Essas reflexões nos impõem uma avaliação da nossa expressão religiosa. Convém atentar para o que disse Tiago,
irmão de Jesus, sobre a verdadeira religião, a espiritualidade que agrada a Deus: “cuidar dos órfãos e das viúvas em
suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo”. Ele estava apenas citando de um modo
diferente os dois maiores mandamentos: amar o próximo e amar a Deus.
ANTÔNIO MAIA
DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
[1] Bíblia Nova Versão
Internacional, Comentário, Ed Vida, p.424
[2] Idem, p. 1791