AUTOMATISMO E DEVOÇÃO
Vivemos
em mundo de muita ciência e tecnologia. Há máquinas por todos os lados. Muitas
vezes atuamos como extensões delas e até falamos com elas. Tudo acontece em um
ritmo acelerado e mecânico de tal modo que nossas ações diárias são rígidas e
repetitivas. Acordamos todos os dias para fazer as mesmas coisas. Muitos de nós
já se transformaram em máquinas humanas, vivendo no "modo automático", desempenhando
as mesmas rotinas sem pensar. Como expressar a devoção a Deus em meio a esse
contexto?
É
preciso cuidado para não entrarmos nesse processo de coisificação do ser humano
e levarmos esse modelo para a vida de devoção. Não é difícil perdermos a
consciência de nós mesmos e nos tornarmos autômatos religiosos. Muitas pessoas,
por exemplo, oram sem a consciência de que estão falando com Deus, o Criador?
Quantos vão ao culto, cantam, ofertam, ouvem a homilia, mas, no íntimo, não
cultuam verdadeiramente a Deus? Sem perceberem, suas expressões de adoração
já se transformaram em rotinas mecânicas de uma religiosidade morta.
O
chamado do Evangelho, contudo, é para uma espiritualidade pessoal e não apenas
formal. Muitos de nós cristãos, porém, perderam a consciência da pessoalidade
no relacionamento com Deus. Manifestam sua devoção apenas na expressão da
forma, da liturgia e da solenidade. É claro que essa dimensão da
espiritualidade tem o seu valor, mas se ela não é acompanhada de uma
consciência interior que de que realizamos os atos litúrgicos porque amamos a
Deus e ao próximo e temos um relacionamento íntimo com Ele, tudo será “como um
sino que ressoa ou como o prato que retine” e sem valor (1Coríntios 131-3).
Jesus
falou para Nicodemos, um membro do Sinédrio especialista nas Escrituras:
“ninguém pode ver o Reino de Deus sem nascer de novo” (João3.3). Embora fosse
reconhecido por sua religiosidade, Jesus o alertou sobre a necessidade de ele
nascer para Deus, nascer do Espírito. Mas como isso ocorre? Paulo, escrevendo
aos Romanos, disse: “se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer
em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (10.9). A
atitude de fé no sacrifício de Cristo produz, em nosso íntimo, o milagre de
nossa adoção como filhos de Deus. Na mesma carta, o Apóstolo diz: “vocês...
receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos “Aba,
Pai. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”
(8.15).
A
consciência de que somos filhos de Deus nos torna imunes a esse processo de
coisificação do homem e permite que vivamos na dignidade de ser humano “para o
louvor de sua glória” (Efésios1.6,12,14). Assim como Paulo, Jesus também
ensinou esse sentimento que devemos ter de filiação em relação a Deus. Ele
disse: “quando vocês orarem, digam: Pai...” (Lucas 11.2). Essa relação de intimidade
com o Senhor é que nos livra da automação religiosa e nos permite expressar uma
devoção viva e sincera a Deus, marcada pela a reflexão em sua Palavra, pela
vida de oração profunda, pela busca por santidade, pela comunhão com os outros,
pela adoração na comunidade de fé...
Antônio Maia - M. Div.
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