A SEDUÇÃO DA SERPENTE

É inegável que, após o pecado original, cada ser humano apresenta um desejo de ser o melhor dentre os demais. Se não há esse desejo, é porque os rigores da vida ou a reflexão profunda eliminaram ou reduziram essa vontade. Mas, no íntimo, todos estão em busca de riquezas, de fama e de poder. As pessoas querem estar em destaque, serem reconhecidas como importantes, querem galgar as posições mais elevadas e serem admiradas. A ganância, no homem caído, não tem limite e, por isso, ele nunca está está satisfeito. Ele quer sempre mais e mais. Há uma prepotência latente em alguns e, em profusão, noutros. O homem deseja ser como Deus.

Foi isso que despertou o interesse do primeiro casal pelo fruto proibido. Deus havia dito para não comer aquele fruto, pois morreriam. A “serpente”, porém, disse a Eva: “certamente não morrerão! Deus sabe que no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3.5). “Nesse ponto, revela-se a natureza do pecado original, pois a fala da serpente colocou em dúvida a honestidade de Deus em relação ao ser humano”. O pecado adâmico foi, então, mais que uma simples desobediência. Seduzido pelo desejo de ser “como Deus”, ele duvidou do caráter divino e deu ouvidos ao Tentador [1].   

Esse aspecto da natureza humana, isto é, seu desejo de proeminência em relação aos demais, imprime um clima de competição nos relacionamentos. As pessoas não querem apenas auto aprimorar-se, mas serem superiores às outras.  Esse espírito de disputa que dominou a história humana, desde a Queda, deu origem a este modelo de mundo que temos hoje, caracterizado pelo domínio do homem pelo homem. É nesse aspecto do homem que se encontra a origem da escravidão, que existe até hoje, do preconceito racial, das guerras e do surgimento, ao longo da História, dos grandes impérios mundiais.

O homem perdeu sua essência na Queda e, agora, para sentir-se relevante quer ter poder sobre os outros. Quando se dirigiam para Jerusalém, pela última vez, os Apóstolos Tiago e João se aproximaram de Jesus, em particular, e fizeram o seguinte pedido: “permite que, na sua glória, nos assentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”. Eles achavam que Jesus ia fazer uma rebelião, expulsar os romanos e assumir o trono de Israel e, por isso pediram cargos importantes. Mas Jesus os reuniu e disse que entre eles não seria assim... “quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos” (Marcos10.37,43,44).

Devemos, sim, ser como Deus, mas no amor, na pureza e na santidade, pois fazendo isso nos aproximamos do ser que éramos antes do primeiro pecado. A cobiça despertada, em Eva, pela serpente alterou sua visão das coisas. É como disse a “serpente”: “seus olhos se abrirão”. Agora o Homem nem, sequer, ver Deus e o próximo o vê como alguém que pode explorar. Por isso Jesus falou aquelas palavras. O Apóstolo Paulo, escrevendo aos Filipenses, disse algo semelhante: “nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (2.3,4).

No Éden, o homem tomou o caminho da arrogância e, com isso, teve sua natureza alterada, passando a experimentar a morte. Para voltar à condição original, só pegando o caminho da humildade.  Por isso Jesus entrou no mundo, para nos ensinar esse caminho. Paulo disse: “seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens... por isso Deus o exaltou a mais alta posição” (Filipenses2.5-9). Um dia seremos como Deus, isto é, teremos a imagem e semelhança de Deus, como no Éden antes da Queda, se tivermos “a mesma atitude de Cristo” de esvaziarmos de nós mesmos e confiarmos em seu sacrifício na cruz,
Antônio Maia - M. Div.
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[1] MAIA, Antônio. O Homem Em Busca de Si - Reflexões na Parábola do Filho Pródigo, p.63

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