EM BUSCA DA GLÓRIA

É notória a imensa quantidade de pessoas, na igreja, que dedicam tempo, dinheiro e habilidades em ações com o único interesse de promover a evangelização e a expansão do Reino de Deus na Terra. Contudo, salta aos olhos aquelas que, também fazendo isso, estão mesmo é em busca de fama, reconhecimento e poder. Estão engajadas no serviço cristão, mas no fundo buscam uma autoafirmação como pessoa e um meio de estar em evidência, em destaque, no seio da comunidade eclesiástica. É verdade que não são muitas, mas como buscam posições relevantes que influem na ação da Igreja, chama a atenção esse fato.

É claro que isso não é o caso de todos que estão em funções de visibilidade e liderança. O serviço cristão envolve, aos olhos humanos, desde as funções mais simples e humildes até as mais respeitosas, embora, para Deus, todas sejam igualmente importantes, pois tudo é para Ele, que não faz acepção de pessoas. Mesmo considerando os muitos exemplos de vidas sinceras e consagradas, no serviço cristão, convém refletir essa questão, pois todos estamos sujeitos a cometer tal erro. Os efeitos do pecado original são tão fortes, em nós, que podemos pecar até mesmo na prática das disciplinas espirituais e nas manifestações de nossa devoção a Deus. 

Jesus, por exemplo, recomendou aos discípulos para que não fossem como os hipócritas que costumavam orar “em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros” (Mateus6.5). Isso mostra que pecamos até mesmo na prática dos atos espirituais. Ele, o Senhor Jesus, nos advertiu sobre isso também em uma parábola que contou sobre um fariseu que orava a Deus demonstrando orgulho de sua espiritualidade “superior” a de um publicano. Jesus estava mostrando que podemos nos exaltar, mesmo, em uma oração (Lucas18.9-14). Precisamos refletir sobre os verdadeiros motivos de nossa ação no Reino de Deus. 

Até nossos líderes e mestres, que deveriam ser modelo no amor e na devoção, cometem esse erro. Marcos, por exemplo, registrou que os apóstolos Tiago e João chamaram Jesus em particular e pediram posições de destaque em seu Reino (10.35-44). Em outra oportunidade, o Senhor, se referindo aos líderes religiosos de Israel, disse: “tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens” e continuou falando que toda a ação deles era em busca de honra e notoriedade. Nesse discurso, Jesus condenou, severamente, a autoexaltação dos líderes (Mateus23.1-12). 

Esse problema que havia tanto no judaísmo como entre os primeiros cristãos também existe hoje, na Igreja. O pecado adâmico é, no fundo, uma busca pela glória. A narrativa da Queda, isto é, do pecado original mostra que o homem queria ser “como Deus” (Gênesis3.5). O que o tentador ofereceu a Jesus, no deserto, a não ser fama, riqueza e poder? É disso que as pessoas correm atrás e o conceito de “sucesso” do mundo se alicerça nessas coisas. Esse conceito entrou na Igreja atual. Muitos entendem a relevância de sua ação, no Corpo de Cristo, com base nesses parâmetros. Não raro vemos pessoas se portando, na Igreja de Cristo, como celebridades. 

No entanto, Jesus rejeitou essa postura não apenas quando foi tentado no deserto, mas durante toda a sua atuação, marcada por ensinos originais e grandes milagres. Os evangelhos passam a ideia de que a nossa relevância está no esvaziamento de nós mesmo para que, em nós, Cristo seja revelado ao mundo. Essa ideia norteou a vida de João Batista. Ele disse, referindo-se a Jesus: “é necessário que Ele cresça e que eu diminua” (João3.30). Pedro, também, certa vez falou a Jesus: “nós deixamos tudo para seguir-te” (Mateus19.27). Se quisermos posições de destaque, precisamos ter em mente o que disse o Senhor: “o maior entre vocês deverá ser servo” (Mateus23.11). 

Se o nosso brilho em nada difere dos que brilham no mundo, somos como o sal que perdeu seu sabor (Mateus5.13). A glória do mundo está fundada na arrogância, na soberba e na vaidade, isto é, naquilo que é vão, vazio e sem essência. Jesus, porém, pediu a Deus uma glória diferente: “Pai, glorifica-me, junto a ti com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (João17.5). Assim, nos parece prudente buscarmos, antes, essa glória, que segundo o Apóstolo Paulo um dia “em nós há de ser revelada” (Romanos 8.18). Contudo, como Cristo, para alcançá-la precisamos trilhar o caminho da cruz. 

Antônio Maia - M.Div.

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