A MORTE DE CRISTO



O autor do livro de Hebreus, escrevendo sobre Jesus, narrou: “portanto, visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo, e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (2.13,14). Esse texto suscita vários questionamentos, mas cito apenas dois, por hora, a saber: a necessidade da entrada de Deus na humanidade, por meio da pessoa do Filho; e o porquê do sacrifício de Jesus, na cruz, para salvar da morte os seres humanos.

São questões complexas e difíceis de serem abordadas em poucas linhas. Mas, em breves palavras, pode-se afirmar que o Filho entrou no mundo porque a humanidade ficou refém do mesmo ser angelical, caído, que tentou Adão: o Diabo. O autor de Hebreus fala que ele “tem o poder da morte”, mas os comentaristas da Bíblia Nova Versão Internacional explicam que “Satanás detém o poder da morte somente no sentido de induzir as pessoas a pecar e a ficar sujeitas à punição do pecado que é a morte” (Ezequiel 18.4; Romanos 6.23) [1].

De fato, Paulo escrevendo aos Romanos falou que a morte entrou na humanidade por meio do pecado adâmico e por isso todos morrem (5.12). Assim, nenhum ser humano pode vencer o poder da morte, pois todos já nascem pecadores (3.23). Desse modo, era preciso um homem, sem pecado, que fosse submetido à tentação, como Adão, e a vencesse. Por isso a Escritura diz que Jesus Cristo foi gerado pela ação do Espírito de Deus, sem pecado, no ventre de uma virgem (Lucas 1.35). Não houve participação masculina na geração de Jesus. Depois, no tempo certo, o próprio Espírito Santo o conduziu para o deserto com o fim de ser tentado pelo Diabo (Mateus 4.1-11). 

Note, então, que Jesus Cristo não é um ser humano que se elevou, moralmente, acima da humanidade e se tornou santo. Segundo os apóstolos, que andaram com Ele, Jesus é o próprio Criador que se fez criatura para resgatá-la do poder do mal. Em sua vitória sobre o pecado, tornou-se digno representante da humanidade diante de Deus, o Pai. Por isso o autor de Hebreus escreveu: “não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas, mas sim alguém que como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (4.15).

Portanto, assim como Adão colocou sua vontade acima da divina e renunciou a vida que tinha na presença de Deus, era preciso um homem que renunciasse a vida desse mundo que se configurou na Queda. Cristo fez isso do início ao fim de sua existência terrena. Sua renúncia ao mundo e a submissão de sua vontade humana à divina o levou a uma vida de obediência a Deus incompatível com o esquema corrompido dessa era, o que resultou na sua morte. 

Cristo morreu por não ceder à sedução do mundo caído, mas ao terceiro dia Deus o ressuscitou dentre os mortos e o assentou à sua direita, pois não era justo um santo permanecer no Hades (Efésios 1.20). A morte de Jesus foi recebida pelo Pai como um sacrifício eterno de amor pela humanidade, pois Ele, como homem, fez o que era impossível ao ser humano caído: cumprir a Lei divina e demonstrar amor inabalável a Deus. Por essa razão, a santidade de Jesus se projeta sobre toda a humanidade e, assim, o homem pode ser, também, justificado diante de Deus. 

Mas essa justificação ou salvação da morte eterna não é universal e automática. O homem precisa se voltar para Deus, reconciliar-se com Ele e passar a viver uma vida de adoração a Ele. A essência da adoração que Deus ensinou ao Israel antigo consiste no sacrifício. Por isso o culto deles consistia na morte de um cordeiro ou outros animais (Êxodo 12; Levítico 1). Em Levítico 17.11, está escrito: “a vida da carne está no sangue, e eu o dei a vocês para fazerem propiciação por si mesmos no altar; é o sangue que faz propiciação pela vida”. O autor de hebreus disse: “...sem derramamento de sangue não há perdão” (9.22). É nesse sentido que João disse que “...o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 João 1.7).

É claro que, hoje, não temos que sacrificar animais para adorar a Deus. Esse tipo de culto terminou com a morte de Cristo, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29), sacrifício esse sempre lembrado e revivido na Eucaristia. Contudo, a adoração a Deus tem sempre um sentido de sacrifício conforme explica o Apóstolo Paulo: “portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo. mas transformem-se pela renovação de sua mente…” (Romanos 12.1,2).   

Antônio Maia - M.Div.

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[1] Bíblia NVI Comentada. São Paulo: Editora Vida, p. 2096

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