A ADORAÇÃO NA EXPERIÊNCIA DE JÓ


Embora o livro de Jó trate da temática da justiça divina diante do sofrimento humano, esse texto da literatura sapiencial dos hebreus levanta uma questão da maior relevância sobre a adoração a Deus. Poderia o homem adorar a Deus sem esperar nenhuma recompensa?[1] Essa questão, no entanto, é melhor percebida quando o leitor compreende o drama do sofrimento de Jó.

De acordo com o texto, certo dia, Satanás pôs em dúvida a piedade de Jó diante de Deus. O anjo caído falou que Jó adorava a Deus porque ele era abençoado e nada lhe faltava. Então sugeriu: “estende a tua mão e fere tudo que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face”. O SENHOR deu permissão a Satanás que assim fosse feito e Jó perdeu toda a sua riqueza e filhos. Mas a reação de Jó foi: “O SENHOR deu, o SENHOR levou; louvado seja o nome do SENHOR... e não culpou Deus de coisa alguma” (1.6-22).

Novamente Satanás compareceu diante de Deus, que disse: “reparou meu servo Jó?... Ele se manteve íntegro...”. O anjo rebelde, que mantinha sua desconfiança em relação à sinceridade de Jó, disse: “estende a tua mão e fere a sua carne e os seus ossos, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face” Disse, então, Deus: “pois bem, ele está nas tuas mãos; apenas poupe a vida dele”. Assim, Jó foi afligido “com feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça”. Sua esposa, ao ver seu estado, disse: “amaldiçoe a Deus e morra! Ele respondeu: você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus e não o mal? Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios” (2.1-10).

A narrativa prossegue, do capítulo três ao trinta e sete, mostrando um diálogo de Jó com três amigos. Estes fazem ele sofrer mais ainda, pois alegam que está passando por tudo aquilo por causa de pecado. Disse um deles: “...quem cultiva o mal e semeia maldade, isso também colherá” (4.8). Jó, contudo, em toda a extensão do texto, posiciona-se como íntegro diante de Deus e não compreende por que está passando por tal provação. Depois de muito sofrimento e dor, Deus, vendo sua retidão e sua sincera devoção, fala com ele, cura-o e restaura “em dobro tudo o que tinha antes”.

Assim, esse texto da sagrada literatura de sabedoria dos judeus mostra que uma pessoa pode, sim, adorar ao Criador sem esperar nada em troca. Este é o cerne da verdadeira adoração a Deus: adorá-lo pelo que Ele é não pelo o que Ele pode fazer por nós. Nesse ponto, Satanás é, duplamente, derrotado: Deus é digno de adoração e o homem pode, sim, adorá-lo com sinceridade e sem intenções ocultas. Em Jó fica evidente a essência da adoração a Deus: o adoramos por amor e pelo o que Ele é.
Antônio Maia – M.Div.
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