A MENSAGEM DE JOÃO BATISTA

Algum tempo antes do início da atuação de Jesus Cristo, apareceu um homem pregando no deserto da Judéia, para onde afluíam multidões com o fim de ouvi-lo. Algo inédito e extraordinário, pois, por mais de quatrocentos anos, desde a profecia de Malaquias, último livro do Antigo Testamento, Deus não enviava profeta à Israel. Uma pessoa notável, cuja mensagem trouxe uma nova visão sobre a realidade espiritual, ensino esse, continuado e ampliado por Jesus em seu ministério. 

Mas sua mensagem não consistia apenas no conteúdo de sua pregação. Sua vida, no deserto, era um grito de protesto contra o estilo de vida da elite sacerdotal que assistia no templo e costumava explorar o povo com o comércio de animais para o sacrifício, fato esse reprovado, depois, por Jesus (Mateus 21.12,13). João Batista repreendeu essas autoridades e, ignorando-as, desenvolveu um ministério, independente, batizando as pessoas para perdão de pecados e pregando: “arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (Mateus 3.1-9).

Arrependimento era a tônica da sua mensagem, pois preparava o terreno para a chegada do Messias que viria logo após ele (Mateus 3.11,12). Mas os judeus aguardavam um Messias Rei, um líder religioso e nacionalista que ia restaurar o reino de Israel, entre as nações. No contexto dessa visão equivocada, eles cultivavam uma espiritualidade alicerçada no legalismo, isto é, no esforço inútil de cumprir a Lei e no formalismo religioso, ou seja, na observação mecânica dos rituais de sacrifício. Israel estava distante de Deus, vivendo como nos tempos do profeta Oséias que, falando em nome do SENHOR, disse: “desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos” (Oséias6.6). 

O messianato de Jesus, porém, era outro, isto é, era espiritual. Ele vinha para libertar os homens do poder do pecado e levá-los a uma vida, novamente, sob o domínio de Deus. Observe que Mateus registrou que Jesus começou seu ministério com a mesma mensagem de João Batista: “quando Jesus ouviu que João tinha sido preso... começou a pregar: arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (Mateus 4.12,17). A ideia de Reino de Deus é central nos ensinos de Jesus e, só em Mateus, é mencionada cinquenta vezes. Mas o homem entra nesse reino não pela religiosidade morta, mas por meio de verdadeiro arrependimento. 

Essa palavra “arrependimento” vem do grego μετάνοια (metanóia) que significa uma conversão tanto espiritual quanto intelectual. É uma mudança de mente, o alcance de uma nova mentalidade, marcada pelo retorno a Deus que resulta em novas atitudes e ações morais e éticas. Uma espiritualidade interior que transborda para o exterior nos relacionamentos com Deus e com os homens. Paulo, escrevendo aos Romanos fala algo nessa direção: “se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12.1,2). 

Esse ensino de João Batista, a mensagem do arrependimento de pecados, continuado, depois por Jesus Cristo e seus discípulos, reorienta a vida espiritual dos judeus daquela época. A espiritualidade para eles, naqueles dias, consistia no sentimento de pertencimento ao sistema religioso judaico com o templo, a Lei e os rituais, mesmo vivendo em desacordo com o ensino divino. Esse fato mostra que podemos estar longe de Deus, ainda que em meio a uma vida religiosa. Só a atitude de arrependimento, isto é, uma mente voltada para Deus, em nosso viver, nos próxima dele e nos faz sentir sua presença, o que nos leva a uma vida de amor a Ele e ao próximo.
Antônio Maia - M.Div.
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