O NASCIMENTO DE JESUS
Todo dia 25 de dezembro os cristãos comemoram o Natal, isto é, o
nascimento de Jesus, um carpinteiro de Nazaré, que, por causa de sua vida
santa, seus milagres, seus ensinos e sua ressurreição, dentre os mortos, é
reconhecido como o Filho de Deus. Os cristãos entendem esse evento como a
entrada do próprio Deus na humanidade para salvá-la do jugo do pecado e da
morte. Na narrativa de Lucas 2:1-10, três aspectos revelam a singularidade
desse acontecimento: a constatação de uma realidade espiritual que perpassa o
mundo da matéria; o nascimento propriamente dito; e o caráter discreto do
anúncio desse evento.
Era para ser, apenas, mais uma noite de vigília, junto aos rebanhos,
mas, repentinamente, os pastores se viram tomados por uma visão espiritual em
que um ser não desse mundo, isto é, um anjo, apareceu a eles e lhes anunciou:
“estou trazendo boas novas de grande alegria que são para todo o povo: hoje, na
cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2.11).
Após a fala desse anjo, a realidade material é, miraculosamente, rasgada
novamente e eles, os pastores, veem uma cena de um outro mundo em que “uma
grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus” por
causa do nascimento do menino Jesus.
Embora a humanidade viva imersa em um mundo de matéria, as Escrituras
sagradas falam, do início ao fim, de uma realidade não material, um mundo
espiritual que interfere nesse mundo em que vivemos. O Apóstolo Paulo, por
exemplo, falando de si mesmo, disse que conhece um homem que “foi arrebatado ao
paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar”
(2Coríntios 12.1-4), uma realidade de existência incompreensível à mente
humana. O Apóstolo João, também, prisioneiro na ilha de Patmos, por causa do
evangelho, no dia do Senhor foi arrebatado em espírito e teve uma visão da sala
do trono de Deus e outros ambientes e cenários do mundo espiritual do Criador,
conforme descrito em seu Apocalipse.
Já com respeito ao nascimento de Jesus, a narrativa lucana trata, na
verdade, do momento em que o Criador se torna criatura para viver entre os
homens e resgatá-los da prisão da morte por causa do pecado original que os
afastou de Deus. Veja que Lucas 2.11 diz que quem nasce é Deus: “...hoje, na
cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. “Cristo” é a
forma grega da palavra hebraica “Messias”, que significa “Ungido”. E esse
Cristo, isto é, esse Messias é o “Senhor”. A palavra “Senhor” no grego em que
foi escrito o evangelho é κύριος, que Gingrich e Danker (2005, p.123) afirmam
que ela era usada, entre outros sentidos, para designar “Deus”, bem como Jesus,
indicando sua divindade [1]. Kύριος aparece mais de 700 vezes, no Novo
Testamento, em referência a Jesus.
No tocante à discreta forma do anúncio de tão importante acontecimento,
salta aos olhos o fato de ele ter sido feito a humildes pastores. Era a chegada
do tão esperado Messias, prometido e profetizado no Antigo Testamento. Os
religiosos aguardavam com grande expectativa esse evento. Mas foi a simples
pastores que Deus deu a notícia. Os pastores, na sociedade judaica daquela
época, constituíam uma classe desprestigiada de pessoas. Eles eram, até,
considerados pelos religiosos como impuros, pois não cumpriam certos ritos de
purificação por causa de sua profissão e seu testemunho não tinha valor nos
tribunais. Por que justo a essas pessoas foi anunciada a chegada do Filho de
Deus?
Paulo explica um pouco da ação de Deus no mundo em sua primeira carta
Aos Coríntios (1.18-31; 2). O Apóstolo diz: “Deus escolheu o que para o mundo é
loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza
para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é
insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é, a fim
de que ninguém se vanglorie diante dele” (1Coríntios 1.27-29). Ele diz, ainda,
que se os poderosos tivessem entendido o mistério de Cristo não o teriam
crucificado, mas Deus o revelou aos pequenos por meio do Espírito (1Coríntios
2:8,10).
Os religiosos, com seus esquemas teológicos, não tomaram conhecimento da
chegada do Messias. Jesus só foi reconhecido como Filho de Deus pelos humildes,
pois a forma como Deus se revelou, em Cristo, fugiu à lógica humana. Jesus
continua incompreendido para muitos. Os judeus pediam sinais miraculosos, os
gregos pediam sabedoria, hoje, os homens pedem uma explicação racional, mas
aprouve a Deus salvar alguns dentre a humanidade pela “loucura da pregação”
(1Coríntios 1. 21,22). Cristo só pode ser compreendido por meio da fé. “Sem fé
é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele
existe e que recompensa aqueles que o buscam” (Hebreus 11:6).
Antônio Maia – M. Div.
Direitos autorais reservados
[1] GINGRICH, F. Wilbur e DANKER, Frederick W. Léxico do Novo
Testamento: Grego - Português. São Paulo: Vida Nova, 2005.
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