VOCÊS PODEM BEBER O CÁLICE?


Não raro, observa-se, na Igreja, pessoas agindo de forma romântica e outras de modo imaturo. Algumas, empolgadas com os testemunhos de missionários e líderes envolvidos na obra de evangelização, decidem assumir tais posições mesmo sem serem chamadas por Deus ou sem saberem que essa é a vontade dele para suas vidas. Já outras, almejando admiração e reconhecimento e algumas até mesmo enriquecimento, lutam por cargos de destaque, na comunidade eclesiástica, e atuam como estrelas para satisfazer seus egos.

Mas esse problema não é peculiar apenas à Igreja atual. O evangelista Marcos registrou que, próximo da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, perto do fim de seu ministério, os irmãos Tiago e João fizeram o seguinte pedido a Ele: “permite que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”. Eles pensavam que Jesus ia expulsar os romanos e restaurar o reino de Israel (Atos 1.6). Assim, aproximaram-se de Jesus e pediram posições de poder e privilégios. Marcos registrou que os outros quando ouviram isso, “ficaram indignados com Tiago e João” (10:41).

Ao ouvir esse pedido, Jesus lhes falou: “vocês não sabem o que estão pedindo. Podem vocês beber o cálice que estou bebendo ou ser batizados com o batismo com que estou sendo batizado?” (Marcos10.37,38). Os comentaristas da Bíblia Nova Versão Internacional explicam essa expressão “beber o cálice”. “Significava compartilhar o destino de alguém. No Antigo Testamento o cálice de vinho era uma metáfora comum da ira de Deus contra o pecado e contra a rebelião do homem (Sl 75.8; Is 51.17-23; Jr25.15-28;49.12;51.7). Assim o cálice que Jesus tinha que beber diz respeito ao castigo divino dos pecados que Ele mesmo suportou no lugar da humanidade pecaminosa (v.10.45;14.36)” [1]. 

É claro que essa reflexão não pretende desestimular as pessoas de assumirem funções na Igreja e nem inibir o desejo da função episcopal. Jesus disse: “a colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mateus9:37). Paulo, escrevendo a Timóteo, em sua segunda carta diz: “se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função”, mas ele prossegue dando a entender que esse caminho não é para qualquer um (1Timóteo3:1-7). Fato é, contudo, que o excesso de pessoas não chamadas por Deus para serem líderes da Igreja tem banalizado o evangelho e disseminado ensinos e práticas que envergonham os da fé cristã.

Os que buscam posições relevantes na Igreja precisam saber que a luta que vão travar “não é contra seres humanos, mas contra... as forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Efésios6:12). Muitos que vão para o serviço cristão se surpreendem com o sofrimento que dele vem. Sobre Tiago e João, Jesus disse para eles: “vocês beberão o cálice que estou bebendo e serão batizados com o batismo que estou sendo batizado” (Marcos 10:38). Ele falou isso em uma referência ao futuro que os esperava. Tiago, logo após a morte e ressurreição de Jesus, seria morto à espada por ordem do rei Herodes (Atos 12:2) e João viveria, pobremente, como bispo da Igreja e, em idade avançada, seria preso na ilha de Patmos (Apocalipse1:9).

Jesus, no Getsêmani, antes de ser preso para no dia seguinte ser morto, ao deslocar-se junto com Pedro, Tiago e João “começou a entristecer-se a angustiar-se. Disse lhes então: a minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo. Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice, contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mateus 26:37-39). O texto diz revela que Ele fez três vezes essa oração e, então, sentiu-se forte para enfrentar o sofrimento que o aguardava. Mas agora, diante disso tudo, fica a pergunta: e nós podemos beber o cálice?

Antônio Maia – M. Div.

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