A MINHA HORA
De acordo com o Apóstolo João, Jesus, logo no início de seu ministério,
fez um milagre que impactou a muitos: a transformação de água em vinho, em um
casamento, na cidade de Caná. Nessa ocasião, em conversa com sua mãe, Ele falou
uma frase surpreendente: “a minha hora ainda não chegou” (João 2:4). O que
Jesus queria dizer com aquelas palavras? Fato é que este assunto, “a hora de
Jesus”, aparece em diversas partes das narrativas dos evangelhos (Mateus 26:45;
Marco 14:41; Lucas 22:53; João 2:4;7:6,30; 8:20;12:23,27;13:1;16:32;17:1). Qual
o seu significado? Qual a sua relevância?
Foi nesse contexto que o Apóstolo amado registou que os irmãos de Jesus,
por ocasião da festa judaica das cabanas, sugeriram a Ele para ir para
Jerusalém e se mostrar a todos, pois Ele não devia fazer seus milagres e
pregações em segredo. Ele devia, antes, se mostrar ao mundo. Mas, segundo João,
“Jesus lhes disse: para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer
tempo é certo” (João 7: 3-6). De fato, os evangelhos mostram que Jesus atuava
com discrição para não chamar a atenção dos religiosos e do povo, pois tinha
uma agenda de ensinos a cumprir com seus discípulos. Jesus temia que esse
processo fosse interrompido antes do tempo certo.
Tal atitude pode ser notada, por exemplo, no episódio da cura de um
leproso, após o sermão do monte. Após curá-lo, Jesus disse a ele: “Olhe, não
conte isso a ninguém. Mas vá mostrar-se ao sacerdote e apresente a oferta que
Moisés ordenou, para que sirva de testemunho” (Mateus 8: 1-4). Jesus fez o
mesmo, várias outras vezes, com as pessoas que Ele curou (Mateus 9:30;1216;
Marcos 1:44;5:43;7:36; Lucas 8:56). Ele “não queria que sua morte fosse
precipitada, isto é, ocorresse antes de Ele terminar seu ministério” [1].
Sim. Ele tinha esse cuidado, pois logo no início de sua atuação, os
religiosos judeus decidiram matá-lo. Por essa razão, Jesus desenvolveu seu
ministério nas pequenas cidades, próximas do mar da Galileia e só ia a
Jerusalém nas épocas das festas judaicas. Esse fato pode ser observado com o
evangelista Marcos que narra o episódio em que Ele curou um homem que tinha uma
mão atrofiada enquanto o ouvia em uma sinagoga. Como Ele fizera a cura em um
sábado, “os fariseus saíram e começaram a conspirar com os herodianos contra
Jesus, sobre como poderiam matá-lo” (3:1-6).
Essa situação que Jesus vivenciava era muito delicada em vista do
impacto de seus milagres em uma sociedade marcada pela dor e sofrimento. Aquele
leproso, por exemplo, que foi curado por Jesus, em vez de ficar calado,
conforme Marcos, “saiu e começou a tornar público o fato, espalhando a notícia.
Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente em nenhuma cidade, mas ficava
fora, em lugares solitários. Todavia, assim mesmo vinham a ele gente de todas
as partes” (1:45).
Por essa razão, Jesus falou a sua mãe aquela frase: “a minha hora ainda
não chegou”. A importância dessa frase de Jesus está no fato de ela revelar que
Jesus tinha, durante todo o tempo, a consciência de que Ele era o Filho de Deus
e que sua vida culminaria em sua morte em favor da humanidade. No fim de seu
ministério, próximo de sua prisão, Ele orou a Deus: “Pai, chegou a hora.
Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique. Pois lhe deste
autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os
que lhe deste” (João17:1-2).
A hora de Jesus, sobre a qual falara a sua mãe, era a hora de sua morte.
Após tomar a Ceia, pela última vez, com os discípulos, Jesus foi para o
Getsêmani para orar. Ao fim de suas orações, ele se dirigiu aos discípulos, que
estavam um pouco afastados e disse: “chegou a hora! Eis que o Filho do Homem
está sendo entregue nas mãos dos pecadores” (Marcos 14:41). Quando os chefes
dos sacerdotes, os oficiais da guarda do templo e outros líderes religiosos
chegaram para prendê-lo, Ele disse: “...esta é a hora de vocês – quando as
trevas reinam” (Lucas 22:52 e 53). No dia seguinte, às quinze horas da tarde,
Jesus morreu (Marcos 15:33-41).
Antônio Maia – M.Div
Direitos autorais reservados
[1] NVI, Bíblia Comentada. São Paulo: Ed Vida. 2003, p. 1629
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