O MISTÉRIO ACERCA DOS GENTIOS

 


 

O Apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, falou sobre um mistério que havia estado oculto, por séculos, desde os tempos do Antigo Testamento, mas que, agora, lhe foi “dado a conhecer por revelação” pelo Espírito. Que mistério era esse? O Apóstolo explica: “mediante o evangelho, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Efésios 3: 1-7). O que ele estava dizendo era que, por meio da fé em Cristo, os gentios podiam integrar a Igreja, isto é, “o Israel de Deus” (Gálatas 6:16) e serem chamados “povo de Deus”.

Para o cristão atual, o fato de os gentios, isto é, as pessoas de outras nações (não judias) terem direito à salvação provida por Deus, por meio de Jesus, não apresenta nenhuma dificuldade. Mas para o judeu daquela época isso era uma completa novidade, algo absurdo, inaceitável, uma heresia. Eles viam Yahweh como o Deus particular de Israel, a final foi a eles que Ele se revelou e entregou sua Lei. No pensamento deles, Yahweh se interessava apenas com Israel. Esse fato, isto é, que os gentios também podem ser “povo eleito”, e outros, contribuiu para que os cristãos fossem vistos pelos líderes e sacerdotes de Israel como apenas uma seita religiosa (Atos 24:5).

É preciso que se compreenda que a Igreja de Cristo, originariamente, era constituída só de judeus. Embora entendessem a salvação pela graça de Deus, por meio da fé em Cristo, muitos ainda estavam apegados às tradições judaicas. Isso pode ser observado, por exemplo, no fato de Pedro ter que explicar-se à Igreja de Jerusalém por sua conduta com o gentio Cornélio. Diz o texto: “Os apóstolos e os irmãos de toda a Judéia ouviram falar que os gentios também haviam recebido a palavra de Deus. Assim, quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram do partido dos circuncisos o criticavam dizendo: você entrou na casa de homens incircuncisos e comeu com eles” (Atos11:1-3). 

Esse sentimento de exclusividade na relação Deus-homem que os judeus nutriam sobre si decorria de uma percepção, equivocada, sobre Deus e seu Reino, que eles desenvolveram ao longo do tempo. Um fato que pode ter contribuído para isso foi a promessa divina a Davi, dada por meio do Profeta Natã, de que Deus estabeleceria o trono dravídico para sempre (1Crônicas 17:12-14). Por esse motivo, depois de séculos sob o domínio dos impérios babilônico, persa, grego e romano, eles alimentavam a esperança da vinda de um Messias nacionalista que restauraria a glória de Israel entre as nações. 

Mas não era isso que os profetas do Antigo Testamento anunciavam. Em seus escritos, observa-se um interesse divino por toda a humanidade. Em Gênesis, por exemplo, Deus fala a Abraão que, por meio dele, todos os povos da terra seriam abençoados (12:3). Deus falou isso porque, na descendência de Abraão nasceria Jesus, o Filho de Deus, que, por seu sacrifício, salvaria não só Israel, mas pessoas de todas as nações. Jesus mesmo, antes de subir aos céus, ordenou aos seus seguidores que fizessem discípulos de todas as nações e que fossem até aos confins da terra (Mateu28:16-20; Atos 1:8). Mas os judeus, inclusive os convertidos a Cristo, pensavam que Deus tinha um plano só com eles. 

O Apóstolo Paulo, contudo, em sua carta aos Romanos, mostra a universalidade do amor e do plano de Deus para com o homem caído. Ele escreveu: de Israel “é a adoção de filhos; dele é a glória divina, as alianças, a concessão da Lei, a adoração no templo e as promessas... e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo...” (9:4,5). Mas aprouve a Deus chamar os gentios, de modo que o Apóstolo afirma: “os gentios que não buscavam justiça, a obtiveram, uma justiça que vem pela fé; Mas Israel que buscava uma lei que trouxesse justiça, não alcançou. Por que não? Por que não a buscava pela fé, mas como se fosse por obras...” (9:30-32). Terminando a carta, Paulo escreve mais sobre esse mistério: “mas agora dado a conhecer... por ordem do Deus eterno, para que todas as nações venham a crer nele e a obedecer-lhe... (Romanos 16:26).

Assim, fica evidente que a Sagrada Escritura revela o amor de Deus não apenas pelos judeus, mas por todos os homens. Israel é, somente, um extrato da humanidade que Deus separou para revelar-se a ela. Sobre esse fato, Isaías diz: “que nenhum estrangeiro que se disponha a unir-se ao Senhor venha dizer: é certo que o Senhor me excluirá de seu povo... E os estrangeiros que se unirem ao SENHOR para servi-lo, para amarem o nome do SENHOR e prestar-lhe culto... e que se apegarem à minha aliança, esses eu trarei ao meu santo monte e lhes darei alegria em minha casa de oração. Seus holocaustos e demais sacrifícios serão aceitos em meu altar...” (56:3, 6,7). 

Por fim, convém destacar que a argumentação paulina sobre esse mistério acerca dos gentios é confirmada por outros autores bíblicos. O evangelista Lucas, por exemplo, atribui a Jesus as palavras do Profeta Natã. Ele diz, falando sobre Jesus: “o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; Seu Reino jamais terá fim” (1:32,33). Esse mistério, revelado só na época de Jesus, ao Apóstolo Paulo pelo Espírito, mostra a vontade de Deus de reunir um povo, de todas as línguas e nações, para ser seu, “para o louvor de sua glória” (Efésios 1:9-12). E de fato, a Bíblia termina com a profecia do Apocalipse, na qual consta a reunião de “uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas diante do trono e do Cordeiro”, no Reino eterno de Deus (Apocalipse 7:9,10).

Antônio Maia – M. Div.

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