JESUS É DEUS
Sim, isso mesmo! Jesus, o carpinteiro de Nazaré, era visto pelos
primeiros cristãos como Deus. Note-se, contudo, que o cenário religioso de
Israel, naquela época, era fortemente monoteísta. Diariamente, em suas orações,
eles recitavam o shemá, que, entre outras coisas, proclama: “ouça, ó Israel: o
Senhor, o nosso Deus, é o único SENHOR...”. Assim, afirmar que alguém era Deus
constituía blasfêmia, digna de ser punida com apedrejamento. Mas, os autores do
Novo Testamento não temeram colocar, em seus escritos, essa afirmação. Há
inúmeras passagens em que ela aparece de forma indireta e discursiva. Mas, pelo
menos Paulo, João e Pedro escreveram, em alguns de seus textos, com todas as
letras: “Jesus é Deus”.
O Apóstolo Paulo, por exemplo, só ele escreveu três vezes. Aos Romanos,
falando sobre os judeus, disse: “deles são os patriarcas, e a partir deles se
traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para
sempre! Amém!” (9:5). Aos Filipenses, disse: “seja a atitude de vocês a mesma
de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus
era algo a que devia apegar-se...” (2:5,6). Já, dirigindo-se a Tito, sobre a
graça divina, esse apóstolo disse: “ela nos ensina a renunciar à impiedade e às
paixões mundanas... enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa
manifestação de nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo” (2:11-13).
Quanto ao Apóstolo João, sua literatura é rica no que tange à divindade
de Cristo. Em seu evangelho, ele narrou o episódio em que Jesus, após a sua
ressurreição, apareceu aos discípulos e Tomé, ao tocar nas marcas de sua
crucificação, exclamou: “Senhor meu e Deus meu!”. Em Apocalipse 1:12-18, ele
faz uma descrição de Jesus Cristo, em seu estado de glória. Já, Pedro
inicia sua segunda carta, escrevendo: “Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus
Cristo, àqueles que, mediante a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo,
receberam conosco uma fé genuinamente valiosa...” (2Pedro1:1,2).
O próprio Senhor Jesus se autodeclarou Deus. Segundo João, em uma
conversa com Filipe, este lhe falou: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos
basta”. Então Jesus respondeu a ele: “você não me conhece, Filipe?... Quem me
vê, vê o Pai” (João 14:8e9). Antes, em outra oportunidade, Jesus falou,
claramente: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). O Apóstolo amado também
registrou, na visão do Apocalipse que teve na ilha de Patmos, que Deus, o Pai,
logo no início da visão, declarou: “Eu sou o Alfa e o Ômega (1:8). Mas, no
final dela, quem faz essa declaração – “Eu sou o Alfa e o Ômega” – é Jesus.
De acordo com McGrath (2005, p.411), há, no Novo Testamento, uma série
de passagens que relacionam Jesus com funções ou tarefas ligadas a Deus. Jesus
como salvador: o Antigo Testamento afirma que há apenas um salvador da
humanidade: Deus. De fato, Smith (2001, p.158) afirma: “...Israel conheceu a
Deus como salvador antes de conhecê-lo como Senhor”. Mas, o Novo testamento é
rico em afirmações que dizem que Jesus é o salvador do mundo. Jesus como digno
de adoração: no contexto de Israel, daquela época, só Deus devia ser adorado.
“Contudo, a igreja primitiva adorava a Cristo como Deus” (McGRATH, 2005,
p.411). Paulo, em 1Coríntios 1:2, fala dos cristãos como aqueles que “invocam o
nome de nosso Senhor Jesus Cristo”, usando uma linguagem referente ao culto e
adoração a Deus típica do Antigo Testamento (Gn4:26;13:4; Sl105:1).
Obviamente, afirmar que Jesus é Deus implica em importantes questões de
ordem filosófica e teológica. Brunner (2010, p.369) entende que não se pode
construir uma “contradição entre Deus e a razão”. No entanto, ele afirma que “o
Deus da Revelação não pode ser compreendido por meio de quaisquer categorias
racionais”. Sim, a razão do homem caído não alcança as instâncias da Revelação
divina. Só pelo caminho da fé esse mistério pode ser compreendido. É preciso
fé, mas não uma fé qualquer, pois até os demônios creem. Mas uma fé consciente,
que gera compromisso com Deus, que promove um movimento em direção a Ele. A fé
é a linguagem por meio da qual ler-se e entende-se Deus. Assim, ao homem resta
entregar-se e render-se ao mistério para alcançar a sua salvação.
Antônio Maia – M.Div.
Direitos autorais reservados
BRUNNER, Emil. Dogmática. Volume 1 – Doutrina Cristã de Deus. São Paulo:
Fonte Editorial, 2010.
McGRATH, Alister. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. São
Paulo: Shedd Publicações, 2005.
SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento – História, Método e
Mensagem. São Paulo: Vida Nova, 2001.
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