A ETERNIDADE DO HOMEM



De acordo com as Escrituras cristãs, uma das principais características do ser humano é sua eternidade. Esse aspecto do homem decorre do fato de ele ter sido criado à imagem e semelhança de seu Criador (Gênesis 1:26). Deus, que é eterno, compartilha esse traço de seu ser com as criaturas que Ele cria à sua semelhança. No entanto, pode-se sugerir a questão de que tal afirmação não procede, pois os homens morrem. Sim, é verdade: os seres humanos morrem. A morte, porém, na humanidade, não representa o fim do ser do homem, mas apenas a passagem para uma outra forma de existência. 

A humanidade, hoje, na condição em que se encontra, separada de Deus, experimenta a realidade da morte. Mas não era para ser assim, pois, segundo o texto bíblico, o homem foi criado eterno. Veja o que diz Gênesis 2: 16,17: “e o SENHOR Deus ordenou ao homem: ‘coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não como da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente, você morrerá’”. Ou seja: só morreria se comesse daquela árvore. Adão não seguiu a orientação divina e a morte entrou na humanidade. É claro que, nesse ato do primeiro homem, há outros aspectos envolvidos além da desobediência. Mas, este breve texto não comporta uma análise acurada da questão. 

Desse modo, é fato que o homem, hoje, vive a sua morte. Parece um paradoxo, mas é isso mesmo. O homem original morreu e o ser humano atual constitui apenas uma caricatura dele. Seus elementos constitutivos, corpo e espírito, estão mortos. O espírito está morto porque perdeu aquilo que lhe dava vida: a conexão com seu Criador. O corpo, igualmente, está morto porque perdeu suas características iniciais e progride para a decomposição, na sepultura. Mas, então, como fica o aspecto da eternidade humana? 

O Ser do homem permanece eterno. Quando se diz que ele morreu, significa que ele perdeu sua condição original de perfeição que possuía antes da Queda e foi lançado em uma existência separada de Deus. Se ele não pegar o caminho de volta a Deus, por meio de Cristo, durante essa vida, ficará definitivamente nesse estado de decadência (Apocalipse 20:11-15). Sobre essa questão, Paulo disse aos Tessalonicenses: “os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho… sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder” (2 Tessalonicenses 1:7-9). 

Mas, quanto ao homem que se reencontra com Deus, em Cristo nesta vida, seu espírito é vivificado e ele já se relaciona com o Espírito de Deus que “testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos 8:16). E com relação ao corpo, observe o que o Apóstolo Paulo diz em Romanos 8:11: “e, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do Espírito que habita em vocês”. Depois, escrevendo aos Filipenses, Paulo diz que Jesus, “pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo de seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso” (3:21).

Assim, nas sagradas Escrituras bíblicas, notam-se dois futuros eternos para a humanidade. Um marcado pela felicidade e outro pelo sofrimento. Então, cabe a questão teológica de como Deus pode permitir tal situação. Aqui, há complexidades que, por motivo de objetivo deste texto, não serão consideradas. Contudo, pode-se dizer, em poucas palavras, que, embora Deus seja soberano e tudo controla, os seres criados, à sua imagem, gozam de liberdade relativa para tomar decisões e realizar escolhas. E onde há liberdade, há também responsabilidade. Deus orientou o primeiro homem quanto ao perigo de comer da árvore proibida e, agora, providenciou a salvação para ele sair deste estado de morte, mas cabe ao ser humano, com a ajuda de Deus, pegar esse caminho. 

Ao par de tudo acima dito, a eternidade do homem decorre do próprio Ser de seu Criador, que é soberano sobre o tempo. Mas sua eternidade, diferente de Deus que existe de fora do tempo, teve um início. No entanto, o homem sempre esteve na mente divina, antes mesmo da criação do tempo. Paulo, aos Efésios, disse: “porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença” (1:3). Mas quando o homem se desviou do propósito original de seu Criador, o Eterno se revelou no tempo e abriu um caminho para ele retornar à presença divina. Assim, “só através desta revelação da eternidade nossa própria história adquire uma participação na eternidade (BRUNNER, 2010, P.395).     

Antônio Maia - M.Div.

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BRUNNER, Emil. Dogmática - Volume 1 - Doutrina Cristã de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2010.   

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