MATERIALISMO E ATEÍSMO: REDUCIONISMOS
As correntes de pensamento
materialismo e ateísmo têm algo em comum: ambas afirmam a inexistência de Deus.
No materialismo, a única coisa que se pode afirmar que existe é a matéria.
Logo, Deus, que é espírito, não existe. O ateísmo, de igual modo, também
entende que não há Deus e que a humanidade não precisa dele para viver e ser
feliz. É claro, que do ponto vista filosófico, tais abordagens não passam de
reducionismos científicos. São análises da realidade que não consideram todas
as variantes da questão e se estruturam sobre considerações que não podem
provar.
O materialismo só enxerga matéria
no mundo. Até mesmo o pensamento e os sentimentos humanos, para o materialismo,
são apenas manifestações de estados singulares da matéria. Nesse contexto, a
própria vida biológica vem da matéria inerte. O “eu” e a “consciência” do ser
humano são apenas ideias antigas que precisam ser melhor descritas. Há um
esforço dos materialistas em desconstruir essa linguagem para introduzir uma
nova coerente com suas teorias. Mas o materialismo não explica a origem
da matéria e o que pôs em movimento sua dinâmica de transformações e movimento
no mundo.
Já o ateísmo entende que são
possíveis uma moral e uma ética dissociadas da religião. Sim, é possível uma
moral que vem da razão. Se for adotado, por exemplo, como valor supremo a vida
humana é possível chegar a uma excelente moral sem considerar Deus. Isso,
contudo, não constitui prova de que Deus não exista. Platão e Aristóteles, por
exemplo, concluíram, pela razão, a necessidade de deus para explicar o mundo.
Note, porém, que eles chegaram apenas à ideia de deus e não ao Deus verdadeiro
e Criador, pois este conhecimento está além do pensamento humano. O
conhecimento de Deus só e possível ao homem se lhe for revelado.
Fato é que tanto o materialismo
como o ateísmo se alimentam da ciência para seu desenvolvimento conceitual. No
entanto, Karl Popper, considerado um dos maiores filósofos da ciência do século
XX, fala que
há excelentes razões para dizer
que o que temos em ciência é descrever e (até onde possível) explicar a
realidade. Fazemo-lo com a ajuda de teorias conjecturais; isto é, teorias que
esperamos sejam verdadeiras (ou próximas da verdade), mas que não podemos
firmar como certas [...]” (POPPER apud ZILLES, 2016, p. 209).
O conhecimento científico não
constitui o conhecimento absoluto, isto é, a verdade. A ciência de hoje não
será a de amanhã. Por mais de mil anos a ciência aristotélica reinou
indiscutível até começar a ser questionada no início da Idade Moderna. Veio uma
nova física com Galileu Galilei, depois veio a física newtoniana, depois a de
Einstein e agora a quântica. A verdade hoje não será a mesma amanhã. Por mais
de mil anos a ciência afirmou que o Sol girava em torno da Terra até Copérnico,
um religioso que acreditava em Deus, provar que não.
Assim, o conhecimento científico
não constitui a verdade, mas apenas uma aproximação da verdade. Asse respeito,
o importante filósofo da ciência Thomas S. Kuhn (2018, p.91) afirma
...raramente encontramos áreas
nas quais uma teoria científica pode ser diretamente comparada com a natureza,
especialmente se é expressa numa forma predominantemente matemática. Até agora
não mais do que três dessas áreas são acessíveis à Teoria Geral da Relatividade
de Einstein. Além disso, mesmo nas áreas onde a aplicação é possível,
frequentemente requer-se aproximações teóricas e instrumentais que limitam
severamente a concordância a ser esperada.
Embora o materialismo não
enxergue Deus, mas apenas matéria, por questão de método, ele, simplesmente,
não pode provar que não existe uma realidade espiritual no mundo físico. De
igual modo, o ateísmo não pode provar que Deus não existe. Não é possível preparar
uma lâmina da “substância de Deus” (AGOSTINHO, 2011, p.144) para ser analisada
no microscópio. Mesmo assim, o materialismo e o ateísmo declaram que Deus não
existe e constroem toda uma estrutura conceitual, considerando essa afirmação.
Apenas afirmar, porém, não é suficiente. É preciso provar. Desse modo, o
materialismo e o ateísmo não passam de discurso e os que o seguem, o fazem por
um exercício de fé.
Sim, é isso mesmo. A ausência de
provas reduz o materialismo e o ateísmo a meras crenças. Mas, seus arcabouços
conceitual e teorético são sofisticados e isso contribui para atrair muitos
adeptos. No fundo, no entanto, tudo se reduz à fé que as coisas são como essas
correntes de pensamento afirmam. É uma fé mais fácil de se aderir que a fé
cristã, pois se fundamenta no que se vê. Já a fé cristã se alicerça no absurdo
aos olhos humanos, no impossível à razão humana. Pois “a mensagem da cruz é
loucura para os que estão perecendo, mas para nós que estamos sendo salvos é o
poder de Deus... Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os
sábios... escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada
é para reduzir a nada o que é (1Coríntios 1:18,27,28). Eis a razão pela qual
muitos preferem crer no materialismo e no ateísmo. É como disse o Apóstolo
Paulo: a fé em Deus não é para todos (2Tessalonissenses 3:2).
Antônio Maia – Ph B. M.Div.
Direitos autorais reservados
AGOSTINHO, Santo. Confissões.
Petrópoles - RJ: Ed Vozes, 2011.
KUHN, Thomas S. A Estrutura das
Revoluções Científicas. São Paulo: Ed Perspectiva, 2018.
ZILLES, Urbano. Panorama das
Filosofias do Século XX. São Paulo: Paulus, 2016.
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